Deputado sugere que colega guineense seja "devolvida"
29 de janeiro de 2020O líder do partido CHEGA no Parlamento português, André Ventura, sugeriu que a deputada de origem guineense Joacine Katar Moreira, do partido LIVRE, seja "devolvida ao seu país de origem". A publicação do parlamentar feita nesta terça-feira (28.01) pelo Facebook causou mal-estar no meio político português.
O ataque de Ventura a Joacine, que nasceu na Guiné-Bissau, deve-se ao projeto da parlamentar sobre a devolução do património das ex-colónias que esteja na posse de museus e arquivos portugueses.
Na sua publicação no Facebook, Ventura acrescentou que a devolução da deputada do Livre seria "mais tranquila para todos", incluindo ao próprio partido de Joacine, "mas sobretudo para Portugal". As lideranças do partido LIVRE reúnem-se esta quinta-feira (30.01) para decidir sobre a retirada de confiança a Joacine.
O parlamentar de extrema-direita disse ao jornal Público que as declarações foram "obviamente" uma ironia e que não estava a referir-se a uma deportação física. André Ventura declarou ao jornal português que sua intenção é destacar que "quem permanentemente ataca a história de Portugal, se calhar, não está cá a fazer nada […]. Nesse sentido tudo o que nós investimos nas nossas colónias deveria ser devolvido", publica o jornal em declarações atribuídas ao parlamentar.
Também nesta terça-feira, o líder do partido conservador CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, fez uma alusão a Joacine para reiterar a confiança que tem nos seus correligionários. "Aqui não existem Joacines", disse em referência às divergências da deputada com o partido LIVRE.
Reações e acusações
A publicação de André Ventura no Facebook teve mais de 1,2 mil comentários de apoio e desaprovação as palavras do parlamentar português. O texto teve mais de 520 compartilhamentos até a manhã desta quarta-feira (29.01).
O LIVRE repudiou as declarações de Ventura e de Rodrigues dos Santos em nota publicada no seu sítio na internet. O partido declarou que os ataques contínuos por parte de deputados e dirigentes de partidos de direita usam linguagem "depreciativa e difamatória" e "perpetuam estigmas racistas e sexistas na sociedade portuguesa”.
O partido defende que as divergências políticas não podem "ter lugar nunca a manifestações discriminatórias, ainda mais por representantes eleitos para a Assembleia da República". No texto, o LIVRE qualifica as palavras de André Ventura como "deploráveis e racistas".
Antes e depois de tomar posse na Assembleia da República, a deputada Joacine Katar Moreira foi alvo de várias campanhas nas redes sociais, com milhares de mensagem consideradas pelos seus correligonários como manifestações de ódio, racismo e xenofobia.