Depreciação do franco congolês gera onda de encerramentos
30 de junho de 2017A República Democrática do Congo (RDC) enfrenta uma crise económica devido à queda do preço das matérias-primas, a principal fonte de receita do Estado. Antes da crise, nas áreas mais populosas e com grande movimento comercial da capital, Kinshasa, era possível obter mantimentos necessários para o consumo diário, bem como produtos de luxo.
Mas isso mudou. Uma a uma, as lojas estão a encerrar as suas atividades e as que ainda sobrevivem já só têm alguns produtos nas prateleiras. Os comerciantes foram fortemente atingidos pelo colapso da moeda nacional. O franco congolês começou a perder valor em dezembro do ano passado e o poder de compra de muitos congoleses caiu para metade.
"Acho que agora é muito difícil vender, porque a moeda está cai todos os dias", conta Julia Mumba. A comerciante teve uma loja em Kinshasa durante mais de 10 anos, mas com a crise económica foi forçada a fechar as portas do seu negócio.
"Até podemos ter dinheiro, mas quando vamos ao mercado, percebemos que o preço aumentou. É melhor trocar o dinheiro em dólares", afirma. Segundo Julia Mumba, a renda é outro problema. "Muitas lojas cobram o aluguer em dólares, mas a taxa de câmbio é alta. Em francos congoleses, temos de pagar o dobro, em comparação com dezembro", explica.
Costatin Mulumba, comerciante de calçado, também está a passar por momentos difíceis, apesar da paixão das mulheres congolesas pelos sapatos. "Antes, vendíamos quase 100 pares de sapatos, mas hoje em dia, se vendermos 14 pares, já é um bom negócio", lamenta.
Dependência do dólar
A economia da RDC é fortemente dependente do dólar norte-americano. A situação atual é semelhante à que se viveu há mais de duas décadas, durante a era do antigo ditador Mobutu, quando se imprimiu um milhão de notas de francos congoleses.
A situação levou ao uso do dólar norte-americano no mercado local, o que ajudou a restaurar a confiança no comércio de negócios e bens.
Entre 2012 e o final de 2016, cada dólar podia ser trocado sem dificuldades por 900 francos congoleses. Mas desde dezembro de 2016, cada dólar é negociado por mais de 1500 francos congoleses.
Recentemente, uma equipa do Fundo Monetário Internacional (FMI) visitou o país para avaliar a possibilidade de reformular o setor financeiro, mas até agora nada mudou.
É preciso diversificar
O economista Samuel Bachunge diz que é preciso acabar com a forte dependência das matérias-primas e tentar diversificar a economia, apostando em setores como a agricultura e a tecnologia. "E também temos de ser mais sérios no modo como gerimos os nossos recursos. Mesmo que não sejam suficientes, uma boa gestão poderia ser uma resposta à crise", defende.
Nos últimos cinco meses, o Governo da RDC apresentou 28 estratégias de emergência para lidar com a crise, mas até ao momento a situação ainda não foi estabilizada.
Economistas afirmam que o colapso da moeda nacional em relação ao dólar não seria um problema, se o país não importasse a maioria dos produtos, incluindo alimentos.