"Depois do silêncio", aí estão os "Tabanka Djaz"
10 de dezembro de 2013Existem há praticamente 25 anos. É considerado um dos grupos de referência na história da música guineense, que alcançou a fama dentro e fora do país. Os “Tabanka Djaz” acabam de lançar em Lisboa, Portugal, o seu novo trabalho, depois de onze anos de silêncio.
Durante este período, a Guiné-Bissau fez a travessia do deserto. A imagem do país ficou marcada por vários golpes de Estado e assassinatos de dirigentes políticos e chefias militares, entre outros.
O passado, o presente e o futuro ainda sombrios não deixam de inquietar os músicos, os fazedores de cultura guineenses, que através das suas canções e outras formas de arte exaltam com amargura, mas também com esperança, o desejo de ver renascer o país natal.
Mikas Cabral não desmente este sentimento: "Nós olhamos a Guiné com muita tristeza, infelizmente a Guiné é uma sombra daquilo que foi. O país foi brilhante quando fez a luta de libertação, o pós-independência foi brilhante em termos de desenvolvimento."
O começo do fim
E o membro da banda lembra o pontapé da saída das desgraças: "Mas após o 14 de novembro de 1980, a Guiné caiu num abismo inexplicável. É muito doloroso ver a nossa terra com grandes recursos humanos e materiais na situação em que se encontra."
Também a emigração compulsiva é algo que não agrada aos "Tabanka Djaz": "Sempre vivemos na Guiné-Bissau, mas por causa dos conflitos e desavenças entre os homens hoje temos que viver na Europa, não só para os "Tabanka Djaz", como para todos os guineenses que vivem longe da Guiné, é uma tristeza para todos nós."
Os "Tabanka Djaz" inspiraram-se nos costumes e tradições das aldeias e transportam para as suas canções as vivências dos guineenses, os seus sentimentos e sofrimentos, alegrias e tristezas.
Neste álbum cantam uma outra Guiné-Bissau, de esperança, que procura esquecer o passado, enaltecendo o que há de positivo: "Nós normalmente nos albuns anteriores criticavamos os políticos, desta vez cantamos de forma mais alegre, falamos de nós que estamos aqui e que somos emigrantes."
Pouca fé nas eleições
Mas como a esperança é a última que morre, Mikas Cabral diz: "Temos fé que as coisas mudem. As eleições em si não resolvem nada, já tivemos uma série delas e não resolvemos nada, portanto, tudo passa pelos homens, e que comecem a olhar para a Guiné de uma forma diferente."
É o que retrata o tema “Guiné”, que faz parte do novo CD. Precisa o cantor e guitarrista: "É isso mesmo, retrata esse aspeto positivo da Guiné, essa vontade de voltar a terra. Há uma parte do tema que diz: nós com uma terra tão farta porque temos de pedir abrigo cá fora? Vir para a Europa passar frio e necessidades quando temos uma terra que nos possa acolher."
Sempre sorridente, Mikas Cabral fala do direito de voto dos imigrantes nas eleições gerais de 2014 como uma conquista, que reflete a vontade de todos os guineenses em contribuir para um futuro melhor: "No passado não nos deixaram participar, espero que desta vez possamos dar o nosso contributo. Eleger os nossos governantes é importante."
O grupo, do qual também faz parte um músico alémão (Lars Arens, trombonista), não perdeu a sua essência.
Continua a ocupar o seu espaço, embora num tempo diferente da época em que nasceu.
Uma tabanka mais sólida
Agora com mais maturidade, a banda quer levar este novo álbum para outras latitudes geográficas, para marcar os seus 25 anos de carreira: "Vamos sempre aprendendo, então temos neste álbum toda essa experiência de 25 anos de carreira, sempre coladinhos à nossa Guiné."
Mikas Cabral espera encontrar uma oportunidade para a apresentação do CD também em Bissau.
E quem sabe um dia seja possível materializar uma ideia ainda tímida, no sentido de juntarem vários músicos guineenses num grande concerto pela reconciliação e estabilidade na Guiné-Bissau.
Depois de Portugal, os "Tabanka Djaz" já têm agendado para 2014 uma "tournée" por alguns países europeus, bem como atuações em Moçambique, Cabo Verde e, possivelmente, Angola.