Crise na Alemanha pode levar mais tempo do que previsto
20 de novembro de 2017Desde as eleições de setembro passado, os partidos políticos União Democrata Cristã (CDU, na sigla em alemão), de Angela Merkel; a União Social-Cristã (CSU); o Partido Liberal Democrático (FDP) e Os Verdes, negociavam para alcançar um acordo prévio que lhes permitisse iniciar negociações formais de coligação.
Agora, a Alemanha poderá estar à beira de uma duradoura crise política depois do fracasso das negociações da CDU-CSU com os liberais do FDP e com Os Verdes para a formação de um novo governo.
Após o fracasso de mais uma ronda negocial, Angela Merkel garantiu que fará tudo para que a Alemanha seja bem gerida - por um governo de gestão, liderado por ela própria, durante "as difíceis semanas que se avizinham".
Refugiados, clima e reduções fiscais
Os pontos críticos das negociações têm sobretudo que ver com a política de refugiados, a luta contra as alterações climáticas e os desejos de reduções fiscais por parte do FDP.
O Presidente alemão, Frank Walter Steinmeier, tinha instado os partidos a chegarem a um compromisso. Nesta segunda-feira voltou a apelar para que assumissem as responsabilidades que os eleitores lhes deram nas eleições de setembro.
Na história da República Federal da Alemanha, isto é desde 1949, nunca houve um governo de minoria a nível federal, e formaram-se sempre coligações com acordos prévios que fazem as vezes de programa comum de governo.
Governo de minoria
A situação política na Alemanha contém, portanto, muitas incógnitas. Os observadores questionam como será o desfecho desta crise, numa altura em que tanto os parceiros da União Europeia como os agentes financeiros e económicos contavam com um governo estável e duradoiro em Berlim.
Agora há quem questione: poderá estar a acabar a era de Angela Merkel? O politólogo alemão Christian Hacke responde que não necesáriamente.
"Merkel é uma experiente e perspicaz política cheia de ambição e vontade de manter-se no poder. Tenho a certeza de que ela terá um ou outro trunfo na mão, que por enquanto ainda não utilizou. Mas nem tudo depende dela. Porque há várias hipóteses de saída desta crise. Mas isso não está apenas nas suas mãos, mas também nas mãos do presidente federal", detalha Hacke.
Existem saídas possíveis para a crise?
Segundo o analista Christian Hacke tudo indica que mais tarde ou mais cedo o presidente federal-alemão, o social-democrata Frank-Walter Steinmeier, terá que convocar novas eleições, caso os partidos representados no parlamento federal não consigam ainda formar uma coligação com maioria no Bundestag.
Segundo Hacke, isso depende do que vai acontecer nos próximos tempos, se a chancelar irá contactar outros partidos para tentar chegar a acordo com os mesmos.
"Penso no entanto que é muito improvável que o partido de Merkel chegue a acordo com os verdes sobre a formação de um governo minoritário envolvendo os dois partidos. Os sociais-democratas do SPD também afirmaram repetidamente que não querem reeditar a chamada "grande coligação". Não sabemos no entanto se a fome de poder no SPD é tão grande que poderá fazer os sociais-democratas a mudar de opinião. Tudo está em aberto. Mas não me admiraria que mais tarde ou mais cedo o presidente se veja obrigado a convocar mesmo novas eleições”, pontua o analista alemão.De salientar que novas eleições são um cenário que a maior parte dos partidos e dos cidadãos não desejam: Por um lado correr-se-ia o risco de tudo ficar na mesma, mesmo depois de novas eleições.
Ou seja: muito provavelmente nenhum dos partidos conseguiria uma maioria absoluta e ficaria de novo obrigado a entender-se com um ou mais parceiros. Por outro lado, correr-se-ia o risco do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) vir a aumentar o seu número de votos.
Note-se que os populistas do AfD conseguiram 12,6 por cento em setembro, logo na primeira vez que concorreram a nível federal.
"Eleições antecipadas beneficiariam provavelmente o partido AfD, e talvez também os liberais do FDP, que abandonaram as negociações para a formação de governo", afirma ainda o analista Christian Hacke.
Aguardam-se os próximos episódios desta novela política que dura há quase dois meses na Alemanha.