Crise no Sudão coloca o Chade sob pressão
28 de abril de 2023Antoine, um congolês que vive no Sudão há cerca de 20 anos, está desesperado por fugir do país no meio de fortes combates. O seu destino seguro mais próximo é o vizinho Chade.
As condições de vida pioraram desde o início dos confrontos entre as Forças de Apoio Rápido (RSF), lideradas pelo general Mohammed Hamdane Daglo, e o exército nacional do general Abdel Fattah al-Burhane, disse à DW.
Antoine explicou que há vários dias que não têm comida para comer nem electricidade para utilizar.
A base de retaguarda da RSF fica a mais de 1000 quilómetros de distância, perto da fronteira do Sudão com o Chade.
Em risco
Os que esperam para atravessar para o Chade dizem que vivem sob a ameaça dos bombardeamentos que têm como alvo um acampamento próximo dos paramilitares.
"Há cheiros porque há corpos de pessoas que morreram e até agora não foram recolhidos", diz Antoine.
"Corremos o risco de ter cólera. Dormimos no chão e alguns dormem em contentores. Quando está calor, o contentor também aquece e podemos resistir e ficar lá dentro. Até há cobras neste sítio onde dormimos. Também há muitos mosquitos".
Um frágil cessar-fogo - que está em vigor desde terça-feira - permitiu que muitos sudaneses e outros cidadãos estrangeiros fugissem em busca de segurança, e muitos deles foram para o Chade.
Bijou, cidadã de outro país africano, espera viajar para o Chade ou ser evacuada para outro país.
"Sofremos muito aqui", disse Bijou. "Felizmente, os soldados de Daglo dão-nos pão e comida. Desde que a guerra começou, passámos vários dias sem comer".
Ameaça à segurança do Chade
As autoridades do Chade estão preocupadas com o facto de os confrontos em curso no Sudão poderem comprometer a segurança e a situação humanitária no seu próprio território, uma vez que milhares de pessoas - na sua maioria mulheres e crianças - continuam a procurar refúgio.
O ministro da Defesa do Chade, Daoud Yaya Brahim, disse à DW que estava preocupado com o fluxo de refugiados.
"Temos mais de 400.000 refugiados sudaneses que estão connosco desde 2003", disse Brahim. "O Chade vai sofrer [em termos de] segurança", disse. "Foram tomadas muitas medidas e disposições para proteger a nossa fronteira."
Funcionários da Agência de Desenvolvimento Económico e Social (ADES), uma ONG humanitária chadiana, disseram à DW que o Chade poderá acolher mais de 100 mil refugiados muito em breve devido aos combates.
"As nossas equipas contaram cerca de 20.000 pessoas. A situação continua, por exemplo, do lado de Cartum e também na zona de Nyala. E, no nosso plano de contingência humanitária, esperamos realmente 100.000 pessoas que poderão atravessar a fronteira para o Chade", afirmou Abdelhakim Tahir, director da ADES.
Apoio limitado aos refugiados
O Programa Alimentar Mundial (PAM) avisou que o fornecimento de alimentos aos refugiados no Chade seria reduzido para metade a partir do próximo mês devido à falta de apoio financeiro.
Isto significa que Antoine e Bijou podem até ter dificuldades em lidar com as condições se atravessarem para o Chade.
Tahir alertou para o agravamento da situação humanitária dos refugiados no Chade se a comunidade internacional não mobilizar ajuda suficiente a tempo.
"É uma catástrofe humanitária se o Programa Alimentar Mundial não tiver recursos. O PAM é mesmo o parceiro que mobiliza recursos para responder às necessidades alimentares dos refugiados. Mas já não há recursos para os antigos refugiados e não há recursos para o actual afluxo", afirmou.
Estima-se que o PAM necessite urgentemente de um pouco mais de 142 milhões de dólares nos próximos seis meses para manter o seu programa para os refugiados, bem como para prestar assistência alimentar vital às comunidades afectadas pela crise no Sudão.
"O Chade não tem financiamento suficiente. A comunidade internacional tem de se mobilizar. Tememos realmente o pior. As organizações não serão capazes de lidar com este afluxo de refugiados sudaneses", disse Tahir à DW.
O Chade tem vivido numa situação de turbulência política desde a morte do antigo Presidente Idriss Deby Itno, em 2021. Novas eleições foram adiadas para Outubro de 2024 e pelo menos um milhão de pessoas são afectadas por inundações devastadoras, o que contribui para os problemas da empobrecida nação centro-africana.