CPLP: Autora defende capital político da língua portuguesa
28 de outubro de 2022Os atores políticos, económicos e culturais devem explorar devidamente o potencial do português, língua falada por cerca de 300 milhões de pessoas no mundo e bem representada nas redes sociais. O apelo é lançado pela académica brasileira Monica Villela Grayley, autora do livro "A Língua Portuguesa Como Ativo Político" apresentado esta quinta-feira (27.10), em Lisboa, pelo secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua (CPLP), Zacarias da Costa.
"A língua portuguesa, presente nos quatro cantos do mundo, é inevitavelmente um ativo político, cujas vantagens ainda passam despercebidas", afirma Monica Grauley, em declarações à DW.
"A nossa língua portuguesa está presente das Américas a Ásia. Ela vai de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Às vezes não nos damos conta disso, porque já nascemos com essa língua. Há uma tendência de achar que a língua não é tão importante porque a gente já está acostumada a ela", lembra.
Um "esforço coletivo"
A língua não é apenas um instrumento de fala e de comunicação, reconhece a académica brasileira, que salienta a presença do português em muitos blocos regionais e políticos importantes, da União Europeia, passando pela União Africana até ao Mercosul, para citar apenas três. Todos estes blocos, acrescenta Monica Grayley, representam um enorme volume de comércio e de negócios. Além disso, sublinha, há um "grande ativo político na presença demográfica nesses blocos de todas as pessoas que falam o português".
Declarações para justificar o teor do seu livro "A Língua Portuguesa Como Ativo Político", apresentado na sede da CPLP. A obra, que resulta da tese de mestrado da autora, baseia-se na estratégia da CPLP de internacionalização da língua portuguesa, aprovada pelos Estados membros em 2008.
"De lá para cá houve muitos progressos, mas acho que agora a gente precisa pensar de uma maneira diferente. Eu acho que agora o nosso desafio é explorar devidamente esse ativo político e para isso precisamos de políticas da língua por conta dos países, mas não somente. Eu costumo dizer que a política da língua é uma responsabilidade dos países, dos Estados. Mas a execução cabe a todos. É um esforço coletivo", considera.
Redes sociais podem ser grandes aliadas
A académica brasileira dá uma "contribuição modesta" para uma perceção mais clara do valor político da língua portuguesa, ao lançar um repto à reflexão, quando se sabe que o português é a quinta língua mais falada no mundo e a terceira mais usada nas redes sociais.
Monica Grayley diz que, na era da comunicação e da informação, as redes sociais podem ser grandes aliadas na execução da referida estratégia. O potencial político da língua portuguesa pode gerar mais oportunidades e dividendos para todos, disse durante a sua intervenção.
Para o político guineense Domingos Simões Pereira, que prefaciou o livro, "esta é uma obra muito ousada, porque ela abandona a retórica muito simplista da forma como todos reclamamos a língua como nossa pertença".
"A Monica vai à procura de elementos quantitativos, e é através desses elementos quantitativos que ela aborda a dimensão política, a dimensão económica e a dimensão cultural", aponta.
Reformas em atraso
A autora analisa o contexto geo-estratégico da língua portuguesa e, ao fazê-lo, segundo Simões Pereira, reclama um conjunto de reformas cuja execução peca por estar atrasada. "A circulação", continua, "é o [exemplo] mais emblemático".
Monica Grayley também aborda "a questão de uma espécie de ERASMUS CPLP, porque um dos grandes potenciais da língua é que qualquer novo estudante nos nossos países é mais um falante da língua portuguesa", explica Simões Pereira.
Segundo o antigo secretário executivo da CPLP, "se a questão da educação é vista como um dos principais entraves ao próprio desenvolvimento dos países lusófonos", conforme argumenta Mónica Grayley no seu livro, o investimento nesse setor devia ser crucial. "Seria automaticamente também uma forma de promoção da língua [portuguesa]. Ou seja, eu encontrei neste livro da Monica uma abordagem para lá das simples proclamações", afirma.
O ex-primeiro ministro da Guiné-Bissau destaca a análise expressa no trabalho da autora que convida cada um dos países membros, as organizações e os cidadãos comuns da Comunidade lusófona a refletirem sobre aquilo que cada um pode fazer para a valorização da língua portuguesa como fator de desenvolvimento.
Depois dos EUA, Brasil, Alemanha e Portugal, o livro será levado aos demais países de língua portuguesa.