Drogas e álcool nas escolas preocupam autoridades de Nampula
10 de novembro de 2015
Santos Alberto frequenta a 12ᵃ classe na Escola Secundária de Nampula e consome álcool desde dezembro de 2011. O aluno diz que o álcool é a única forma de combater o stress. “Se for uma sexta-feira posso beber até cair. Eu bebo mesmo”, afirma. Santos conhece os perigos de beber álcool em excesso, mas diz que não vê outra alternativa. Aos outros jovens deixa um conselho: “bebam com moderação. Eu não bebo de forma moderada”.
Nos últimos anos, registou-se um aumento no consumo de cannabis, tabaco e álcool nas escolas de Nampula. Este ano, registaram-se mais de cinco mil casos de alunos e professores encontrados a consumir drogas e bebidas alcoólicas em recintos escolares, segundo um relatório da Direcção Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano divulgado em outubro. O documento revela ainda que 100 professores ficaram incapacitados de dar aulas devido a perturbações mentais.
Maus exemplos
O relatório, que resulta de um inquérito feito em quase todos os 23 distritos da província de Nampula, no norte de Moçambique, não detalha as causas do consumo de drogas, mas os estudantes dizem que esta é uma forma de aliviar o stress originado pelo desemprego, além dos salários baixos dos docentes.
André Janna, secretário provincial do Sindicato Nacional dos Professores, lamenta a situação e insta o sector a combater o consumo de drogas.
“O consumo de álcool e outros estupefacientes é um dos graves exemplos de educação. Há professores que consomem com os seus alunos”, explica.
Drogas e álcool podem levar a expulsão
O porta-voz da Direcção Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano de Nampula, Alfredo Nicurupo, admite que, este ano, foram toleradas algumas infracções. Mas o cerco vai apertar a partir do próximo ano. Segundo Nicurupo, professores, funcionários e alunos que estejam embriagados ou claramente sob o efeito de drogas serão expulsos.
"Existe um documento disponível em todas as escolas que refere as medidas a serem tomadas para os professores, alunos e funcionários drogados. Instruímos o Departamento Actividades Especiais para a divulgação do mesmo em todos os distritos”, explica o porta-voz da Direccção Provincial de Educação, concluindo que “em casos de renitências, os professores têm a pena máxima de expulsão”.
Também o psicólogo Francisco Armando alerta para os perigos do consumo de drogas. Pede a intervenção do Governo para acabar com este fenómeno, implementando políticas claras. "O álcool, como outras drogas, pode alterar o funcionamento normal do nosso cérebro, dando-nos um comportamento não desejável. As escolas constroem o homem, se este homem começa a consumir álcool a partir da lá, a situação pode complicar-se, futuramente", considera.