Consultora revê em baixa crescimento económico de Moçambique
11 de abril de 2016Para a consultora britância Economist Intelligence Unit (EIU), o crescimento da economia Moçambicana, de apenas 4,8% este ano, taxa mais baixa dos últimos 15 anos, deve-se ao abrandamento da despesa pública e do investimento e aos impactos das condições climáticas na produção agrícola.
"Já vimos nos últimos meses que o Governo tem amarras em sua política monetária e que reduziu seus planos de expansão. Achamos que isso vai ter um efeito direto sobre o que está acontecendo com o consumo de produtos e também na forma como o Governo está expandindo e alimentando a economia," explica a analista da organização, Charlotte King.
"O segundo fator que mencionamos em nosso relatório é o clima, que vai afetar a economia de Moçambique de diversas formas. A mais óbvia delas é a produção agrícola," acrescenta.
Baixa deve continuar até 2020
Para além da revisão em baixa do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2016, a Economist também reviu em baixa a expectativa de evolução média da riqueza de Moçambique para os próximos anos, que assim desce de 6,8% ao ano - entre 2017 e 2020 - para 5,8% neste período.
A razão que levou a esta revisão de longo prazo foi o setor mineiro e o ambiente global de commodities, no qual Moçambique se encontra imerso.
"No momento, todas as minas de Moçambique se encontram não lucrativas e nesse ambiente, o investimento vai ser muito baixo. Ainda assim, pensamos que a [gigante brasileira] Vale vai aumentar a sua produçãode carvão este ano e é por isso que ainda acreditamos num PIB de 4,8% para este ano," avalia King.
Apesar de a previsão ser de que os preços das matérias-primas mantenham-se em níveis baixos em comparação aos últimos anos, as expectativas são menos pessimistas para os próximos anos.
"Estamos prevendo que os preços do carvão e do alumínio vão subir em 2017 e 2018. Assim, esperamos que a economia deve se recuperar. Nós também estamos antecipando uma normalização no sector da agricultura," considera a analista da EIU.
Inflação recorde
Outra expectativa negativa da EIU é a de que a inflação acelere para quase 13% em 2016, o que representa um recorde face aos últimos cinco anos. A previsão de inflação para este ano estaria ligada à alta dos preços dos alimentos.
"Em grande parte, devido à seca no sul de África que está tendo impacto na produção doméstica de Moçambique. A África do Sul, que é a fonte usual de importação de produtos alimentares, também terá queda na produção, o que está elevando os preços. Baseado no fato de que antecipamos a normalização futura da produção agrícola, o preço dos alimentos deve voltar a cair," diz Charlotte King.
A inflação é vista por Charlotte King como um fator de risco para a estabilidade social de Moçambique.
"Esperaríamos ver um aumento na escala e na frequência de protestos anti-Governo, porque o preço dos alimentos está subindo, o custo de vida está subindo, e, comparado aos últimos anos, o Governo está numa posição mais fraca para apoiar a economia," antecipa.
Ainda de acordo com a analista, a principal prioridade do Governo de Moçambique deve ser a preservação da sustentabilidade da dívida pública, que passou de menos de 40% em 2012 para quase 70% do PIB este ano.
"Acho que é necessário. O Governo agora ajustou sua política para mudar o foco do crescimento económico para reduzir sua dívida. Significa essencialmente emprestar menos e tentar criar um ambiente mais estável para a moeda - porque o metical desvalorizou rapidamente nos últimos 18 meses," conclui.