1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Conseguimos eliminar um vírus chamado FRENAMO"

António Cascais
25 de novembro de 2024

Analista André Mulungo concorda com proposta do candidato Venâncio Mondlane para diálogo alargado em Moçambique. Assim, país "não fica refém" de duas forças que sempre dominaram o xadrez político: a FRELIMO e a RENAMO.

https://p.dw.com/p/4nQ2p
Cartazes de campanha na Ilha de Moçambique, em outubro de 2019
Foto: Johannes Beck/DW

A reunião proposta pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, com os candidatos presidenciais, está marcada para esta terça-feira (26.11).

"O candidato presidencial Daniel Francisco Chapo, da FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique], confirmou a participação no referido encontro, reafirmando o seu compromisso na promoção da estabilidade política no país", lê-se numa nota do partido, enviada hoje à agência noticiosa Lusa.

O candidato presidencial Ossufo Momade, líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), também disse que aceita o convite, desde que participem os quatro candidatos presidenciais. À DW, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) confirmou igualmente a presença do seu presidente, Lutero Simango, no Palácio Presidencial.

E Venâncio Mondlane? O candidato apoiado pelo Partido Otimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), que se considera o "verdadeiro vencedor", propôs um diálogo alargado, que, além dos quatro candidatos presidenciais, inclua representantes da sociedade civil.

Candidato presidencial apoiado pela FRELIMO, Daniel Chapo, e candidato suportado pelo PODEMOS, Venâncio Mondlane
Candidato presidencial apoiado pela FRELIMO, Daniel Chapo, e candidato suportado pelo PODEMOS, Venâncio MondlaneFoto: ALFREDO ZUNIGA/AFP/Getty Images

Em entrevista à André Mulungo, oficial do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), saúda a proposta.

DW África: Como avalia este encontro dos quatro candidatos presidenciais, proposto pelo Presidente da República, Filipe Nyusi?

André Mulungo (AM): É importante isto ter acontecido e é importante também ter convidado os candidatos presidenciais para o diálogo, para se ultrapassar este momento. O que se pode discutir agora é como o diálogo vai acontecer. Há uma proposta de Venâncio Mondlane, e os outros participantes também podem colocar as suas propostas.

Mas o encontro pode terminar encalhado se cada uma das partes apresentar as suas propostas e mantiver o seu posicionamento. Venâncio Mondlane, por exemplo, insiste que ganhou as eleições, e um dos seus pontos principais é a reposição da verdade eleitoral, mas Daniel Chapo, que já aceitou fazer parte do diálogo, também diz que ganhou as eleições.

São posicionamentos que, a serem mantidos, podem condicionar o avanço do próprio diálogo.

DW África: E há outra questão que está por resolver: as garantias de segurança ao candidato Venâncio Mondlane. O que se pode esperar neste aspeto?

AM: Como sabe, há processos movidos pela Procuradoria-Geral da República e, nesse sentido, presume-se que haja mandados de busca. Se Venâncio Mondlane [entrar] em território nacional pode ser detido. Além disso, ele teme pela sua vida – Mondlane denunciou que tem sido alvo de ameaças, e essa questão também pode condicionar [o diálogo.]

DW África: O candidato Venâncio Mondlane propôs um diálogo alargado que, além dos quatro candidatos presidenciais, inclua representantes da sociedade civil. Concorda com essa proposta?

AM: Perfeitamente. Para mim, o grande mérito dos resultados das eleições de 9 de outubro, mesmo que contestadas, é que, pela primeira vez, nós conseguimos eliminar um vírus do nosso sistema a que chamamos de "FRENAMO".

Desde 1992, as principais questões políticas moçambicanas eram tratadas pela RENAMO e pela FRELIMO. Portanto, tem mérito esta proposta de Venâncio Mondlane de alargar o debate para que o país não fique refém de duas pessoas ou de duas forças políticas. É importante que este debate não seja conduzido apenas na lógica dos partidos políticos.

Líder da RENAMO, Ossufo Momade
"Ossufo Momade e a RENAMO tornaram-se irrelevantes", comenta analista André MulungoFoto: Bernardo Jequete/DW

Na sua proposta, Venâncio Mondlane elenca, além dos partidos políticos, as confissões religiosas ou a própria academia. Portanto, parece haver um consenso aqui em Moçambique de que esta proposta de Venâncio Mondlane é muito oportuna, porque Moçambique não pode ser discutido por duas pessoas – deve ser discutido por todos os moçambicanos.

DW África: Já referiu que Daniel Chapo confirmou que estará na reunião, reafirmando o seu compromisso com a promoção da estabilidade política no país. Mas o que dizer do papel do líder da RENAMO, Ossufo Momade?

AM: Ossufo Momade e a RENAMO tornaram-se irrelevantes. As figuras mais importantes [neste diálogo] serão Daniel Chapo e Venâncio Mondlane.

Mas a sociedade civil e as confissões religiosas também desempenharão um papel muito importante, para tentar equilibrar e buscar moderação entre estas duas figuras, que me parece que vão entrar com posições muito extremadas.

Moçambique: Eleições foram a "gota" que transbordou o copo