Confrontos impedem desminagem completa de Moçambique em 2014
19 de dezembro de 2014O país comprometeu-se a eliminar até ao fim de 2014 a totalidade das suas minas, ao abrigo do tratado internacional de Otava, mas o Instituto Nacional de Desminagem diz que o mais seguro é tudo estar terminado até ao final do primeiro trimestre de 2015. Esta semana a província de Tete foi considerada livre de minas. Estima-se que 123 dos 128 distritos tenham sido minados, cobrindo 95% da sua superfície. Em duas décadas, foi varrida uma área equivalente a 32 mil campos de futebol, com incidência nas grandes infraestruturas. Sobre o assunto a DW África entrevistou o diretor do Instituto, Maverengue Augusto.
DW África: O que impediu o incumprimento das vossas metas este ano?
Maverengue Augusto (MA): Não aconteceu porque basicamente começamos a trabalhar tarde devido às hostilidades em Sofala, caso contrário acredito que teríamos conseguido concluir o processo de desminagem ainda este ano.
DW África: E em quanto tempo o Instituto Nacional de Desminagem prevê terminar o processo nos três distritos de Sofala e Manica?
MA: Pensamos que no primeiro trimestre podemos concluir todo o processo, certamente vai depender um pouco das chuvas. Como sabemos dezembro e janeiro é a estação das chuvas em Moçambique. São poucos metros quadrados para chegarmos a conclusão desta desminagem em Moçambique. Estamos a falar em termos de semanas, se não houvesse chuvas acredito que em janeiro poderiamos concluir todo o processo. Estamos a falar do primeiro trimestre porque não iremos trabalhar todos os dias.
DW África: As chuvas são consideradas o maior empecilho na desminagem. Porquê?
MA: Torna-se difícil fazer o trabalho, o solo fica mais compacto e é mais difícil a desminagem. Isso significa que, de facto, estamos perto de concluir o nosso processo.
DW África: Já na recta final da desminagem que ilações tirar considerando que Moçambique está quase a cumprir com o seu objetivo muito antes do prazo estipulado?
MA: Isso é verdade. Quando começamos a desminagem em Moçambique falavamos de décadas, em 2008 começamos a falar de anos e agora, no início de 2014 estavamos a falar de meses e neste momento de semanas. Penso que o que ajudou bastante foi a última pesquisa que fizemos, que foi distrito por distrito, em que o operador não saia de um distrito enquanto não consultasse toda a comunidade ou líderes comunitários para saber se conheciam alguma zona contaminada ou suspeita. Acho que isso ajudou-nos bastante porque a primeira parte da nossa desminagem desminávamos as zonas mais contaminadas que eram as pontes, caminhos de ferro, ruas e estradas. Para aqueles países que não têm mapas de colocação de minas a consulta às comunidades é bastante valiosa e foi o que contribuiu bastante para o nosso sucesso.
DW África: Então, Moçambique será em breve Moçambique um dos cinco países considerados mais afetados pelas minas a estar livre dos engenhos. Acha que o país pode cooperar, por exemplo, com os restantes quatro, como Angola, para que consigam com rapidez o mesmo resultado?
MA: Temos tido troca de experiência com Angola e Zimbabué, ao nível da região, penso que eles têm vindo a observar o nosso processo de desminagem. Angola é um território maior e o tipo de guerra também foi diferente de Moçambique, mas acho que há muita experiência a partilhar.
DW África: Em relação aos danos nas comunidades, eles reduziram, tendo em conta os resultados satisfatórios na desminagem?
MA: Os acidentes diminuiram bastante. Na verdade este ano tivemos três acidentes, praticamente todos com os sapadores. A conclusão a que chegámos é que Tete é a província que estava mais minada. Só este ano retiramos de Tete 35 mil minas, significa que eram duas zonas, Cahora Bassa e a fronteira entre Moçambique e o Zimbabué. Toda a província fizemos ao longo de 2008 e 2014 foram retiradas 74 mil minas. Não temos dados que mostrem outra província com esse nível de minas.