Espanha: Contrabandistas beneficiam de política de migração
20 de maio de 2021Milhares de migrantes têm chegado nos últimos meses às Ilhas Canárias, em Espanha, na esperança de conseguir alcançar a Península Ibérica e outros países europeus – algo que o Governo espanhol tenta evitar ao máximo.
Como resultado, os migrantes acabam por tentar chegar à Europa através de rotas de contrabando, que põem em risco as suas vidas.
Desde o início de 2020, cerca de 30.000 migrantes chegaram às ilhas espanholas. A maioria vem de Marrocos, mas um número crescente começa também a chegar da África subsaariana, especialmente do Mali ou do Senegal - como é o caso de Amadou Diop.
"Desde que cheguei, nada aconteceu: Não tenho trabalho, não tenho nada para fazer. Só posso comer e dormir. Não foi para isto que vim. Não podemos fazer nada pelas nossas famílias no Senegal, por exemplo, enviar-lhes algum dinheiro para comida", lamenta.
Desanimado, também o senegalês Amadu Diop confessa à DW que está a pensar deixar a ilha em segredo.
"O Governo não os ajuda"
O desespero dos migrantes tornou-se há muito um grande negócio para os contrabandistas que cobram valores exorbitantes pelos seus serviços, como conta Iman Tayar, voluntária de uma organização que ajuda os migrantes.
"O Governo não os ajuda, os centros não ajudam porque os deixam em listas de espera. Então claro que recorrem a pessoas que afirmam poder ajudá-los por dinheiro. Os serviços custam entre 700 e 3.000 euros".
É portanto, um negócio de milhões e um tema muito sensível para as autoridades – que não falam sobre o tema. A exceção é Txema Santana, comissário de migração do governo das Canárias, que aceitou falar com a DW e que explica que o problema com os contrabandistas é geral em regiões com fronteiras externas europeias.
"Onde quer que os grupos de migrantes se agrupem, emergem redes de contrabandistas, que traficam pessoas. Haverá sempre pessoas que enriquecerão com a migração", revela.
"Polícia deve parar imediatamente de bloquear migrantes"
Recentemente, um tribunal espanhol decidiu que a detenção de migrantes na ilha é ilegal. O advogado Daniel Arencibia processou esta prática, em nome de um cliente marroquino, e ganhou o caso.
À DW, diz que "não se pode simplesmente transformar uma região inteira numa prisão. E o tribunal deixou agora isso bem claro: No julgamento sumário, o juiz decidiu que a polícia deve parar imediatamente de bloquear os migrantes".
O Governo recorreu, mas os especialistas jurídicos esperam que a decisão seja mantida pois, deste modo, os migrantes seriam autorizados a deixar a ilha legalmente, não tendo de arriscar as suas vidas nas mãos dos contrabandistas.
Nos últimos anos tem aumentado o fluxo de migrantes, especialmente marroquinos, em direção à Europa. Esta vaga migratória é também responsável pela atual crise diplomática entre Espanha e Marrocos, após a chegada, na segunda-feira (17.05), de um número sem precedentes de migrantes a Ceuta, uma das duas únicas fronteiras terrestres do país com a União Europeia.