'Manecas' dos Santos em liberdade
20 de junho de 2017Manuel dos Santos 'Manecas' dos Santos agradeceu a solidariedade demonstrada enquanto esteve detido e afirmou que vai continuar o seu trabalho no Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
'Manecas' dos Santos foi detido segunda-feira (19.06.) em Bissau pela Polícia Judiciária (PJ) na clínica onde se encontrava internado.
Esta terça-feira (20.06.) "Manecas" foi ouvido pelo Ministério Público, tendo acabado por sair em liberdade com termo de identidade e residência.
"Agradeço toda a solidariedade que foi demonstrada em relação a mim. Tenho a minha tarefa aqui no partido e vou continuar a realizá-la como se nada tivesse acontecido", afirmou aos jornalistas, na sede do PAIGC, em Bissau, onde foi recebido por dezenas de apoiantes.
Segundo o advogado do comandante, Carlos Pinto Correia, "Manecas" dos Santos foi ouvido no âmbito de um novo processo por suspeita de simulação de crime com base na entrevista que deu ao Jornal de Notícias.O veterano da luta armada pela independência da Guiné-Bissau tinha sido ouvido, há cerca de um mês, pelo Ministério Público, na capital guineense, para esclarecer as suas declarações sobre a iminência de um golpe de Estado no país.
Na ocasião, acompanhado do advogado e de alguns militantes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), "Manecas" dos Santos disse ter reafirmado perante os magistrados o que é "apenas uma opinião".
Libertação de 'Manecas' confirma que não há razões para ser detido, afirma PAIGCO
presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, disse que a libertação de 'Manecas' dos Santos confirma que não há nenhuma substância para a sua detenção.A libertação de 'Manecas' dos Santos confirma que "não há nenhuma substância por detrás da sua detenção, mas apenas uma intenção deliberada de humilhar e portanto usasse a força do Estado para humilhar e para pôr em causa os estatutos", afirmou aos jornalistas Domingos Simões Pereira.
Segundo o antigo primeiro-ministro guineense, o Ministério Público "não apresentou nada de novo em relação à última audição"."Há uma determinação no sentido de humilhar, essa ordem foi dada, foi expressa, e para mostrar serviço era preciso isso", disse.
Detenção de "histórico" combatente é "tentativa de impor ditadura", diz UM
A União para a Mudança (UM, oposição) considerou por seu lado, que a detenção de Manuel 'Manecas' dos Santos constitui "mais uma tentativa de impor uma verdadeira ditadura" na Guiné-Bissau. Em declarações à agência Lusa, o presidente da UM, Agnelo Regalla, salientou que os direitos dos cidadãos "estão a ser postos em causa", exemplificando com a repressão de manifestações e a tendência de "amordaçar os órgãos de comunicação social" por parte do regime do presidente guineense, José Mário Vaz, e do primeiro-ministro Umaro Sissoco.
"Isto vai na linha daquilo que vem acontecendo no país na tentativa de implementação de uma verdadeira ditadura. Os direitos dos cidadãos estão a ser completamente postos em causa, com repressão de manifestações, há uma tendência para tentar amordaçar os órgãos de comunicação social", frisou Regalla.Para Regalla, cujo partido conta com um deputado na suspensa Assembleia Nacional Popular (ANP, Parlamento), a detenção de um elemento histórico da luta de libertação nacional significa que se entrou na "fase de tentar amedrontar as pessoas e sobretudo por em causa a legitimidade da luta de libertação nacional.
Regalla destacou também o "papel vergonhoso" do Ministério Público guineense, que tem agido em "função de alvos antecipadamente definidos", pelo que, disse, não se surpreenderá se as detenções se virarem agora para dirigentes de partidos e respetivos líderes oposicionistas ao regime de Vaz e Sissoco.
Por outro lado, lamentou a "extrema lentidão" e a postura "demasiado silenciosa" da comunidade internacional, salientando ter esperança de que esta possa agir "enquanto não houver sangue, mais violência ou enquanto não estiverem em causa vidas humanas".
LGDH congratula-se com libertação de 'Manecas' dos Santos
O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Augusto da Silva, congratulou-se com a libertação do comandante 'Manecas' dos Santos, considerando como "incompreensível" a sua detenção a pedido do Ministério Público. Em declarações à agência imprensa, o presidente da Liga afirmou que "dadas as circunstâncias", o Ministério Público não tinha outra alternativa que não fosse mandar restituir a liberdade ao veterano de luta da independência da Guiné e Cabo Verde, detido na segunda-feira.
"As circunstâncias que envolveram a execução do mandado (de detenção) são muito estranhas", defendeu Augusto da Silva.
O dirigente da Liga disse ainda ser incompreensível o facto de a Polícia Judiciaria ter retirado 'Manecas' dos Santos da clínica onde se encontrava em tratamento médico para prisão.
"Essas circunstâncias inquinam todo processo. Demonstram que deve haver outros motivos que não a realização da justiça", observou Augusto da Silva, esperando que a libertação de "Manecas" dos Santos corrija "o erro que se cometeu".
O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos disse que espera também que o Ministério Público "não volte a cometer erros crassos", como os verificados na prisão do veterano.