Com medo de milícia, Mogadíscio volta à vida com cautela
7 de maio de 2012Mas os somalis não se deixam intimidar. Numa discoteca na capital somali Mogadíscio, a pista de dança está cheia de homens e mulheres que se mexem ao ritmo da música quando falta pouco para a meia-noite.
O ambiente é de alegria e festa, descreve um dos homens que participa da festa: "Sempre que venho aqui conheço gente nova, homens e mulheres. Conversamos sobre o que fazemos. Alguns estudam, nas mais diversas universidades. Outros trabalham para organizações humanitárias. É fantástico", relata.
De dia a discoteca é um simples restaurante. Os comes e bebes à noite são modestos: limonada, um bolo e uma bolacha para cada um. Nada de invulgar nas festas de Mogadíscio. No início da noite, o dono do bar, Mohamed Abdi distribuiu os pratos de papel com os doces e as garrafas de limonada.
"Uma ou duas vezes por mês alguém reserva o bar para uma festa. São somalis que regressam do exterior, mas também convidam jovens somalis daqui", conta Abdi à reportagem da DW África. "Perguntam-se se podem, pagam adiantado uma parte das despesas, e pronto. Vem gente de toda a idade. Regra geral começamos às nove da noite e às vezes a festa vai até às duas horas da manhã", explica.
"Normalidade" é revolução num país sem governo
O que parece tão evidente é uma verdadeira revolução em Mogadíscio. Há vinte anos que o país está em guerra e os combates continuam até hoje. Muitas partes do país são controladas pela milícia fundamentalista islâmica al-Shabaab, ligada à organização terrorista internacional al-Qaeda. Até há oito meses, a al-Shabaab também controlava a capital, onde proibiu a música, a dança, o futebol e a televisão.
Mas, em agosto de 2011, a al-Shabaab foi expulsa da cidade pelo exército do governo de transição com a ajuda das tropas de intervenção africanas da Missão da União Africana na Somália (de sigla inglesa AMISOM). Ainda há alguns terroristas escondidos nas cidades, e os atentados suicidas regulares continuam a fazer muitas vítimas.
Qualquer festa que se ouça em todo o bairro é um grande risco. Por isso o dono do bar Mohamed Abdi só as anuncia com muitas precauções: "Se toda a gente sabe é perigoso", diz. "Porque chega aos ouvidos da al-Shabaab e eles podem aproveitar-se disto para os seus fins. Por isso só avisamos as pessoas individualmente no próprio dia da festa".
As mulheres continuam vestidas com a modéstia exigida pelas regras severas da al-Shabaab, em trajes largos até aos pés e véus que não deixam ver os cabelos. Mas elas mostram a cara e os seus trajes não são negros, mas muito coloridos. E os seus corpos abandonam-se à música sem reservas. Nesta noite uma parte de Mogadíscio parece prestes a explodir de alegria de viver.
Autoras: Bettina Rühl (Mogadíscio) / Cristina Krippahl
Edição: Renate Krieger / António Rocha