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Com medo de milícia, Mogadíscio volta à vida com cautela

7 de maio de 2012

Há alguns meses que a situação se acalmou na capital somali. A milícia radical islâmica al-Shabaab foi expulsa da cidade, mas alguns fundamentalistas ficaram e realizam atentados (na foto, atentado em abril).

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Soldado evacua ferido enquanto faz a segurança do teatro nacional em abril deste ano
Soldado evacua ferido enquanto faz a segurança do teatro nacional em abril deste anoFoto: Reuters

Mas os somalis não se deixam intimidar. Numa discoteca na capital somali Mogadíscio, a pista de dança está cheia de homens e mulheres que se mexem ao ritmo da música quando falta pouco para a meia-noite.

O ambiente é de alegria e festa, descreve um dos homens que participa da festa: "Sempre que venho aqui conheço gente nova, homens e mulheres. Conversamos sobre o que fazemos. Alguns estudam, nas mais diversas universidades. Outros trabalham para organizações humanitárias. É fantástico", relata.

De dia a discoteca é um simples restaurante. Os comes e bebes à noite são modestos: limonada, um bolo e uma bolacha para cada um. Nada de invulgar nas festas de Mogadíscio. No início da noite, o dono do bar, Mohamed Abdi distribuiu os pratos de papel com os doces e as garrafas de limonada.

"Uma ou duas vezes por mês alguém reserva o bar para uma festa. São somalis que regressam do exterior, mas também convidam jovens somalis daqui", conta Abdi à reportagem da DW África. "Perguntam-se se podem, pagam adiantado uma parte das despesas, e pronto. Vem gente de toda a idade. Regra geral começamos às nove da noite e às vezes a festa vai até às duas horas da manhã", explica.

Em 1º de maio, carro explodiu nos arredores da capital; autoria não foi reivindicada, mas ataques vêm sendo assumidos por milícia Al-Shabaab
Em 1º de maio, carro explodiu nos arredores da capital; autoria não foi reivindicada, mas ataques vêm sendo assumidos por milícia Al-ShabaabFoto: picture-alliance/dpa

"Normalidade" é revolução num país sem governo

O que parece tão evidente é uma verdadeira revolução em Mogadíscio. Há vinte anos que o país está em guerra e os combates continuam até hoje. Muitas partes do país são controladas pela milícia fundamentalista islâmica al-Shabaab, ligada à organização terrorista internacional al-Qaeda. Até há oito meses, a al-Shabaab também controlava a capital, onde proibiu a música, a dança, o futebol e a televisão.

Mas, em agosto de 2011, a al-Shabaab foi expulsa da cidade pelo exército do governo de transição com a ajuda das tropas de intervenção africanas da Missão da União Africana na Somália (de sigla inglesa AMISOM). Ainda há alguns terroristas escondidos nas cidades, e os atentados suicidas regulares continuam a fazer muitas vítimas.

Qualquer festa que se ouça em todo o bairro é um grande risco. Por isso o dono do bar Mohamed Abdi só as anuncia com muitas precauções: "Se toda a gente sabe é perigoso", diz. "Porque chega aos ouvidos da al-Shabaab e eles podem aproveitar-se disto para os seus fins. Por isso só avisamos as pessoas individualmente no próprio dia da festa".

Soldados shebab foram expulsos da capital pelo governo de transição
Soldados shebab foram expulsos da capital pelo governo de transiçãoFoto: AP

As mulheres continuam vestidas com a modéstia exigida pelas regras severas da al-Shabaab, em trajes largos até aos pés e véus que não deixam ver os cabelos. Mas elas mostram a cara e os seus trajes não são negros, mas muito coloridos. E os seus corpos abandonam-se à música sem reservas. Nesta noite uma parte de Mogadíscio parece prestes a explodir de alegria de viver.

Autoras: Bettina Rühl (Mogadíscio) / Cristina Krippahl
Edição: Renate Krieger / António Rocha

07.05 Mogadíscio reportagemNOVA - MP3-Mono