Cimeiras da SADC vistas como "encontros de compadres”
18 de novembro de 2024A capital zimbabueana, Harare, é palco esta quarta-feira (20.11) da cimeira extraordinária dos chefes de Estado e de governos da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Em cima da mesa está a crise pós-eleitoral em Moçambique, que já provocou a morte de dezenas de pessoas e centenas de feridos.
De acordo com a Plataforma de Observação eleitoral Decide, só entre os dias 13, 14 e 15 de novembro pelo menos 22 pessoas morreram nas manifestações contra os resultados das eleições de 9 de outubro, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
A Plataforma contabilizou um total de 23 baleamentos e 80 detenções, nas manifestações de quarta, quinta e sexta-feira – três dias da primeira fase da quarta etapa das manifestações.
Neste fim de semana, os protestos tomaram novos contornos com a realização de concentrações noturnas ao som dos panelaços em várias cidades moçambicanas.
Credibilidade questionada
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu no domingo (18.11) a contenção por parte das autoridades moçambicanas para garantir a liberdade de expressão. A União Europeia também já se posicionou, exigindo do Conselho Constitucional a manutenção da transparência eleitoral.
E o que esperar da SADC, depois da cimeira de Harare? À DW, a ativista política Quitéria Guirengane entende que "a SADC deveria não reconhecer os resultados eleitorais e mostrar a Moçambique o exemplo do Botswana país membro da região" e a ativista lamenta: "Temos muita pena porque a SADC que temos muita das veze simbolizou um encontro de compadres”.
Piers Pigou, analista político da África Austral no Instituto de Estudos de Segurança (ISS) em Pretória, também se mostra cético, lembrando que "há uma suposição de que as lideranças de Angola, Tanzânia, África do Sul e Zimbábue já felicitaram a FRELIMO e o seu candidato presidencial, enquanto os outros ficaram de braços cruzados, por assim dizer, à espera da finalização do processo”.
A missão de observação eleitoral da SADC teceu elogios ao processo eleitoral em Moçambique, contrariando outras missões internacionais, incluindo da União Europeia, que destacaram que a eleição foi marcada por muitas irregularidades.
A ex-candidata das presidenciais zimbabweanas em 2023, Linda Masarira disse à DW que "a SADC não tem estado à altura da sua tarefa. Ela sempre foi branda quando se trata de conflitos eleitorais e isso realmente levanta dúvidas sobre o compromisso da SADC em lidar com questões eleitorais.”
Mais do mesmo
O analista moçambicano Dércio Alfazema diz que apesar da SADC ser muito formal, os seus líderes poderão apelar para a concórdia em Moçambique.
"Poderão também fazer apelos a questão de intolerância, a questão da observação do Estado de direito democrático e respeito às instituições”, acredita.
Enquanto a crise pós-eleitoral prevalecer, a estabilidade da região também está é causa, alerta Linda Masarira, para quem a SADC deve fazer tudo o que for necessário para acabar com a incerteza política em Moçambique.
"Precisamos de paz em Moçambique. Precisamos de estabilidade em Moçambique o mais rápido possível”, defende.