China aposta em nova estratégia nas relações com África
4 de setembro de 2014Quando se fala em projetos de infra-estrutura no continente africano todos pensam num país: a China. Já em 1960, a China financiou a construção de uma linha ferroviária entre a Zâmbia e a Tanzânia.
Desde então, o país levou as estradas de asfalto, os estádios de futebol e a Internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, importou do continente petróleo e outras matérias-primas - um fluxo que dominou a visão internacional sobre as relações sino-africanas. Algo que a China está agora a tentar mudar.
A opinião é da chinesa Yun Sun, que estuda a relação africana com a China para a organização Brookings, nos Estados Unidos. "Desde que o presidente Xi Jinping assumiu a Governação da China, a abordagem com os assuntos de África tem um novo visual”, começa por explicar, acrescentando que “a importância de África na política externa da China tem sido enfatizada ainda mais. Agora, a China atribui muito mais importância ao desenvolvimento sustentável de África”.
Um "exportador sem escrúpulos"
Um documento publicado recentemente no país expõe projectos concretos da China para África: 30 hospitais, 150 escolas, 105 projectos de energias renováveis e de energia hidráulica e formação agrária para 5.000 especialistas.
Yun Sun admite que calcular o valor destes projectos é uma tarefa quase impossível, até porque o Governo não abre mão dos números nem diferencia ajuda de investimento. Até agora, o foco da China baseava-se na cooperação económica. O programa estratégico do Governo chinês “Go Global” apoia desde 1990 empresas nacionais e incentiva-as a investir em África, com o objectivo de assegurar a exploração de recursos naturais e promover o desenvolvimento económico da China.
O facto deste país asiático não ter medo de regimes autoritários e corruptos ajudou a criar a reputação da China como um exportador de infra-estrutura sem escrúpulos. Yun Sun considera que “este criticismo gerou uma má imagem das intenções da China”. “A imagem que passa é que a China está no continente por causa dos recursos naturais. E essa má imagem contribuiu imenso para a mudança da abordagem da China agora”, conclui.
Opinião diferente é a de David Owiro, economista do Instituto de Assuntos Económicos na capital do Quénia, Nairobi. É lá que uma empresa chinesa acaba de construir uma auto-estrada inteira. David Owiro não acredita nesta "nova abordagem" da China, afirmando que “o modelo chinês actual é o da construção de infra-estruturas que conduzem aos portos que, por sua vez, conduzem à China”.
Balança de comércio desequilibrada
“Os chineses falam de uma relação de benefício igualitária entre a China e África”, diz o o analista David Owiro, sublinhando que a questão que não está a ser ponderada pelos africanos “é o que China está a levar de África”. “O que é que África está a receber da China? Se olharmos para a balança de comércio, está a favor da China”, conclui.
A China é hoje o maior parceiro comercial de África e em 2020 o país pretende duplicar o volume dos negócios para os 400 mil milhões de dólares. Ao mesmo tempo, a China está a investir na expansão dos meios de comunicação estatais em África, quer no que toca à Televisão Central da China como à Rádio Internacional da China. Pequim está também a apostar na formação de jornalistas africanos. David Owiro considera que “a entrada da televisão e da rádio talvez tenha dado às pessoas a oportunidade de ouvir vozes alternativas”
“Tratando-se ou não de vozes controladas, dão ao público do Quénia e de África uma oportunidade de ter uma opinião alternativa sobre o que se está a passar e sobre o que as outras nações pensam sobre o que está a acontecer em África”, explica p especialista.
Um estudo recente da fundação alemã Friedrich-Ebert, sobre a cobertura dos média chineses em África, conclui que a difusão dos meios de comunicação e a ênfase nos projectos de desenvolvimento chineses têm a mesma intenção: melhorar a imagem da China no mundo.
Aumenta comércio entre China e países lusófonos
O comércio entre China e países de língua portuguesa aumentou 5,12% para 77,42 mil milhões de dólares (58,9 mil milhões de euros) até julho, num regime de trocas comerciais em que o Brasil tem uma quota de 66,7%.
Angola, com uma quota de mercado de 28,2% é o segundo maior parceiro lusófono da China e viu o comércio bilateral ampliar-se 0,91%. O país recebeu de Pequim produtos no valor de 2,6 mil milhões de dólares (1,9 mil milhões de euros), mais 20,19%, mas vendeu produtos no valor de 19,24 mil milhões de dólares (14,64 mil milhões de euros), mais 3,1%.