Cessar-fogo "histórico" na Líbia
23 de outubro de 2020A Comissão Conjunta Militar, conhecida como 5+5, chegou esta sexta-feira (23.10) ao que a ONU considera ser um "importante ponto de viragem para a paz e a estabilidade na Líbia" - um acordo de cessar-fogo permanente em todo o país.
"Espero que este acordo contribua para acabar com o sofrimento do povo líbio e esperamos que permita aos deslocados e aos refugiados, no interior e no exterior do país, regressar às suas casas e viver em paz e segurança", disse a chefe da Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (MANUL).
Stephanie Williams, que mediou as negociações da última semana, já se tinha mostrado "bastante otimista" quanto à possibilidade de um cessar-fogo duradouro.
A representante da ONU adiantou que o cessar-fogo deve ser acompanhado da saída da Líbia "dos mercenários e combatentes estrangeiros num prazo máximo de três meses a contar de hoje".
UE impõe condições para apoio
A União Europeia (UE) considera que o acordo é "uma boa notícia", apelando à sua implementação efetiva.
Contudo, isso poderá ser "mais difícil" do que o compromisso agora negociado, comentou Peter Stano, porta-voz do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
A UE condicionou o seu apoio económico e político à Líbia a três pré-condições: um cessar-fogo permanente, o levantamento do bloqueio das exportações de petróleo e o retomar do diálogo político.
A Turquia duvida, no entanto, da credibilidade do acordo assinado esta sexta-feira em Genebra. "O acordo de cessar-fogo de hoje não foi concluído ao mais alto nível, mas a um nível inferior", afirmou Recep Tayyip Erdogan, o Presidente da Turquia, que apoia militarmente uma das partes do conflito.
Caos pós-Kadhafi
A Líbia tem sido palco de violência e de lutas de poder desde a queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011. Duas autoridades disputam atualmente o poder, ambas amparadas por militares: o Governo de acordo nacional (GAN, reconhecido pelas Nações Unidas e sediado em Tripoli) e o marechal Khalifa Haftar no leste do país.
Os combates na Líbia causaram centenas de mortos e obrigaram à fuga de dezenas de milhares de pessoas.