Celso Filipe apresenta "O Poder Angolano em Portugal"
Os investimentos de Angola em Portugal, alguns dos quais continuam a levantar interrogações, estão na ordem do dia. Destaque para a participação de capitais angolanos em empresas portuguesas na área financeira, das telecomunicações e da energia, onde é influente a posição de Isabel dos Santos.
"A filha primogénita do Presidente de Angola, o general Kopelipa e o vice-presidente Manuel Vicente, figuras muito próximas de José Eduardo dos Santos, são os nomes mais influentes da nomenclatura angolana que aparecem referidos no livro do jornalista Celso Filipe, lançado esta quarta-feira (10.07) em Lisboa.
Do fim da guerra aos investimentos em Portugal
Angola é hoje um dos mais poderosos Estados africanos e uma economia emergente a nível global. Sustentado pelas receitas do petróleo, que, segundo dados oficiais, representam 61 por cento do PIB angolano, o regime liderado por José Eduardo dos Santos gere uma tremenda liquidez financeira que procura aplicar nos sistemas financeiros e economias de vários países, especialmente nos de Portugal".
Palavras da contra-capa do livro "O Poder Angolano em Portugal - Presença e Influência do Capital de um País Emergente", de Celso Filipe, apresentado por outros dois jornalistas, Nicolau Santos e Pedro Guerreiro. O autor, considerado um dos especialistas portugueses na África lusófona, começa por traçar a evolução política e económica de Angola após o fim da guerra civil e por definir com rigor eisenção quem detém o poder no complexo sistema político angolano.
"O que eu procurei fazer no livro foi traçar o momento a partir do qual isso acontece", diz o autor, explicando que "em 2002, com a morte de Jonas Savimbi, nasce uma nova Angola". "Uma Angola em paz, cujas receitas do petróleo, que eram utilizadas quase totalmente para financiar o esforço da guerra, passaram a estar disponíveis para outros fins", afirma, adiantando que "essa liquidez que de repente surgiu no estado angolano permitiu-lhe desenhar uma estratégia de investimento e de aposto em áreas estratégicas".
Governos portugueses dizem sim ao investimento angolano
A estratégia fora de Angola envolvendo o poder político começou no setor financeiro, estendendo-se depois a outras áreas como energia e telecomunicações.
De acordo com o jornalista, "o que proporcionou também este tipo de movimento foi o apoio político inequívoco dado pelos governos portugueses a estas apostas". Celso Filipe dá exemplos: "Eu recordo-me, quando José Sócrates foi a Angola, disse que os investimentos angolanos eram bem-vindos. Mais tarde, quando Pedro Passos Coelho tomou posse como primeiro-ministro, foi a Angola e só fez um pequeno acerscento ao discurso do seu antecessor, afirmando que os investimentos angolanos em Portugal eram muito bem-vindos".
Celso Filipe falou à DW de investimentos avultados em empresas cotadas na bolsa, como por exemplo, a petrolífera portuguesa Galp, a ZON, na área das telecomunicações e multimédia, ou do BCP e do BPI, na área da banca. Somando outras participações em empresas não cotadas na bolsa, o autor do livro arrisca-se a dizer que a presença angolana em Portugal valerá cerca de 6 mil milhões de euros. Tudo para conferir que o poder angolano por cá é bastante influente, determinado em parte pela proximidade cultural e histórica entre os dois países.
"Movimento tem duas direções"
O jornalista admite haver espaço para mais investimentos angolanos de menor escala, previsivelmente na área da agro-indústria e da comunicação social, "embora seja também curioso", afirma, revelando que aguarda "com alguma expetativa para ver a estratégia do novo Fundo Soberano de Angola e o que é que vai fazer com o capital que tem disponível"
Entretanto, para o jornalista, assim como existe essa influência em Portugal, de igual modo existe um poder português em Angola. Trata-se de "um movimento que tem duas direções", sublinha, porque Angola também tem desafios de desenvolvimento integrado para tornar a sociedade mais equilibrada e distribuir melhor a riqueza.
No entanto, Celso Filipe considera que o silêncio das autoridades portuguesas sobre temas de violação dos direitos humanos e da democracia tem o caráter de proteção dos investimentos. O autor de "O Poder Angolano em Portugal" entende que esta é uma matéria abordada pelas partes, mas no plano institucional e diplomático, sem interferir nas relações económicas entre os dois países.