Caso Luís Giovani: Manifestantes exigem justiça pelo mundo
11 de janeiro de 2020Luís Giovani dos Santos Rodrigues morreu a 31 de dezembro do ano passado no hospital, após ter sofrido uma agressão perto de uma discoteca em Bragança onde estivera com amigos.
Vestindo 't-shirts' brancas com a fotografia do jovem e na mão com panfletos onde se pode ler #justiçaparaogiovani, as pessoas começaram a juntar-se frente à estátua de D. José I onde estiveram em silêncio, formando primeiro um círculo que no seu interior tinha velas e flores brancas.
As pessoas mantiveram-se em silêncio que, conforme Kleisy Ferreira de Pina, da organização, estava em consonância com Giovani "que esteve também dez dias em silêncio".
"Estou aqui para fazer justiça por aquele jovem que morreu. Portugal está a ficar inseguro. Estou aqui também pelo meu filho que tem a idade do Giovani. Também ele já foi vítima de agressões", disse à Lusa Maria Mendes.
No panfleto com a 'hashtag' #justiçaparaogiovani encontra-se a letra de uma morna feita de forma a homenagear o jovem que, escrita em crioulo, fala da morte, de sentimentos, tristeza e sofrimento, explicou Maria Mendes.
Ivanilde Gomes, que veio de Cabo Verde para Portugal há três anos, disse esperar que a morte de Giovani "sirva para que os cabo-verdianos sejam ouvidos e não tenham de se calar com injustiças como a que aconteceu".
Na praça, muitos são os jovens com bandeiras de Cabo Verde, vendo-se pessoas de todas as idades, que respeitam o silêncio pedido pelos organizadores, empunhando cartazes exigindo justiça.
À Lusa, José Pereira, que pertence aos movimentos Consciência Negra e Em Luta, explicou a necessidade de, "acima de tudo e em primeiro lugar o Estado português esclarecer o que se passou".
"O Estado tem o dever de esclarecer", disse José Pereira avançando haver um "duplo padrão de comportamento do Estado quanto à prática deste tipo de crimes".
José Pereira denunciou também que as autoridades "agridem e brutalizam" quando vão aos bairros onde vivem pessoas "racializadas, negros, emigrantes e ciganos", acrescentando que "agem de forma diferente quando se tratam de não brancos".
Bragança: "Não à violência"
Um faixa com o nome de Giovani e a frase "Não à violência" segurada por várias entidades locais encabeçou hoje a marcha silenciosa de homenagem, em Bragança.
A marcha partiu do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), onde chegaram ao início da tarde autocarros com colegas da escola superior de Mirandela que o estudante cabo-verdiano frequentava há pouco mais de um mês.
O responsável máximo da instituição de ensino superior com nove mil alunos, um terço dos quais estrangeiros de 70 nacionalidades, foi um dos representantes das entidades locais que se juntaram à marcha de hoje, em Bragança.
A iniciativa significa para o presidente do IPB "solidariedade para com a família" num "momento muito difícil, e todo o povo Cabo Verdiano".
Orlando Rodrigues sublinhou que este momento serve para "afirmar os valores da não violência, do respeito pelos outros e da paz, da multiculturalidade".
Também o bispo da Diocese de Bragança-Miranda se juntou à marcha, mas numa "presença de silêncio, de proximidade", deixando as palavras para a homília na catedral de Bragança, o último ponto da homenagem de hoje.
Antes de chegar à catedral, na Praça da Sé, o centro da cidade de Bragança, a homenagem inclui uma vigília, velas e flores.
A Associação de Estudantes Africanos do IPB mandou fazer 't-shirts' brancas com o rosto de Giovani e símbolos da paixão do jovem pela música, que os participantes usaram na marcha, como explicou, o presidente, Wanderley Antunes.
Este movimento, concretizado em manifestações, em Portugal, na Europa e países de África, servem, no entender do dirigente associativo, para "passar a mensagem de união e de força, que a paz tem de prevalecer em todos os momentos".
"Todos estamos juntos, condenamos o ato que aconteceu com o nosso colega", afirmou, reiterando o apelo geral de justiça e punição dos autores.
A multiculturalidade do politécnico de Bragança esteve representada na marcha por Giovani com Marcos Silva, um estudante brasileiro a vestir a camisola de homenagem e a expressar "tristeza" pelo que aconteceu.
"Espero que a Justiça possa averiguar tudo o que está a acontecer", afirmou o jovem brasileiro que está em Bragança desde outubro e testemunha que "as pessoas se dão bem" no IPB.
Tensão na Cidade da Praia
Mais de um milhar de manifestantes forçaram hoje todas as barreiras policiais e conseguiram chegar à porta da Embaixada portuguesa na Praia, ilha de Santiago, em Cabo Verde, gerando-se momentos de tensão, constatou a Lusa no local.
Pelas 16:40 locais, os manifestantes que participavam numa marcha de homenagem ao jovem Luís Giovani, morto em 31 de dezembro, em Bragança, forçaram as barreiras policiais e conseguiram chegar à porta da Embaixada portuguesa.
A polícia reforçou os efetivos e, pela mesma hora, rodeava todo o edifício.
Vivem-se momentos de tensão e os manifestantes gritam "justiça para o Giovani".
Protestos também em Paris
A comunidade cabo-verdiana manifestou-se este sábado junto à embaixada portuguesa em Paris pedindo justiça no caso de Luís Giovani.
"Estamos aqui para dizer que o povo cabo-verdiano em Portugal, em Cabo Verde e no mundo inteiro está ciente dos seus direitos e deveres e que achamos que a forma como foi tratado o caso não foi natural e normal. Estamos indignados. O mínimo que se espera é que se faça justiça", afirmou Isabel Borges Voltine, uma das organizadoras da manifestação, em declarações à Agência Lusa.
Este protesto juntou mais de uma centena de pessoas, na sua maioria da comunidade cabo-verdiana em Paris, e incluiu uma encenação simbólica da morte de Luís Giovani através de expressão dramática, assim como palavras de ordem.