Angola: Major Pedro Lussati diz ser "bode expiatório"
24 de outubro de 2022O major angolano Pedro Lussati disse, esta segunda-feira (24.10), em tribunal, que está a ser usado como bode expiatório numa "guerra híbrida" entre os superiores e pediu a devolução do seu património de mais de 101 milhões de euros.
Segundo Pedro Lussati, arguido no mediático caso Lussati, o montante da série de 2021, detido em sua posse, saiu de um banco comercial de forma legal.
"Essa série [de kwanzas], fui no banco levantar e foi levantado através de empresas. Mas eu entendo que a intenção seja apenas eu ser usado como um bode expiatório, essa é uma guerra híbrida onde eu sou um bode expiatório", disse Pedro Lussati.
"Os grupos que estão a digladiar-se, uns estão de um lado e outros do outro lado, mas o Pedro Lussati está no meio e está a ser usado como um bode expiatório. Nessa guerra híbrida eu sei que não vou ganhar, porque sou apenas um major, um insignificante", realçou.
Lussati, major das Forças Armadas Angolanas (FAA) tido como cabecilha de um grupo que, segundo a acusação, defraudou o Estado angolano em milhões de dólares, foi ouvido, esta segunda-feira (24.10), no âmbito das alegações orais da defesa e do Ministério Público.
O major angolano, um dos 49 arguidos arrolados no processo, disse ser um empresário honesto, cujos investimentos tiveram início em 1998, referindo que na época já vendeu terrenos de 10 milhões de euros no Talatona, zona nobre a sul de Luanda.
"Quero aqui dizer que os factos sobre os quais o dinheiro que foi encontrado em minha casa não é meu é falso. O que está a passar aqui é mais intimidação, estou a ser agredido, vandalizado, sem roupa sequer, a minha imagem na televisão ficou vandalizada", atirou.
Património de 100 milhões
Sobre as malas de dinheiro detido em sua posse, entre dólares, kwanzas e euros, o major das FAA disse tratar-se de sete malas, onde contém também documentos importantes, referindo que o dinheiro apreendido faz parte do seu património, avaliado em mais de 101 milhões de euros, e também dos seus sócios.
"Isto é uma cilada que fizeram contra mim", atirou Pedro Lussati, que é acusado de "sobrefaturar" folhas de salários e de fazer parte de um "esquema fraudulento" na Casa de Segurança do Presidente da República de Angola, onde era funcionário.
"Eu enquanto oficial da Casa de Segurança [do Presidente da República] nunca tive autoridade e nem autonomia e nem na UGP [Unidade de Guarda Presidencial]. Na UGP era soldado, era oficial da sala de operações, enquanto eu naquela altura já era engenheiro", explicou.
"[A Casa de Segurança do Presidente da República] não tem nada a ver comigo, aliás a Casa Militar deve-me, porque estou a levar uma cruz que nunca devia ter levado", lamentou, acrescentando: "Na Casa Militar tem mais de 10 generais, tem chefes, diretores, assessores, consultores, muitos deles são responsáveis da gestão orçamental, mas não estão aqui, apenas é visado o Lussati".
Dinheiro dos sócios
Pedro Lussati explicou também que parte daquele dinheiro apreendido pertence aos seus sócios estrangeiros, "que a qualquer momento podem reclamar o mesmo".
Por isso, argumentou: "Aconselho que a justiça tem que ser feita, mas associar o meu dinheiro à Casa Militar não é justo, se for aquele dinheiro é para esquecer".
O dinheiro nesse mundo de negócios, realçou, não é só seu, "é de terceiros".
"Quando alguém pensar que o dinheiro é só de Pedro Lussati está enganado, aquele dinheiro que encontraram na minha casa, se não prendessem, tenho como provar por via documental, cujas malas estão na posse da PGR [Procuradoria-Geral da República]", disse ainda.
Sobre as roupas e relógios de luxo encontrados no seu apartamento, Lussati disse que grande parte recebeu de amigos, sem pagar, garantido ter coisas de edição limitada.
"Peço que devolvam as minhas coisas, a minha liberdade, tudo o que foi encontrado na minha casa é meu, consegui com o meu trabalho, eu não faço câmbio de dólar, eu sou empresário", rematou Pedro Lussati, que se queixou ainda da "violação" de todos os prazos de prisão preventiva.
Segundo o MP, nas suas alegações, o major Lussati e os restantes coarguidos agiram "dolosa e conscientemente" à data dos factos, entre 2008 e 2018, e "cada um trabalhou a seu nível" para defraudar o Estado angolano.