Caso Chang: Analistas advertem contra expectativa exagerada
12 de julho de 2023O antigo ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang, já está a caminho dos Estados Unidos da América (EUA), onde deverá ser julgado por envolvimento no escândalo das dividas ocultas.
O analista político Dércio Alfazema avisa que o antigo ministro pode não ter muitas revelações novas para fazer quando for a julgamento em Nova York. Para Alfazema, o essencial já foi dito no julgamento em Moçambique. "Tenho muitas dúvidas que Manuel Chang possa ter algum mistério por revelar que ainda não tenha sido revelado por outros,” disse Alfazema à DW África.
Onde estão os milhões desaparecidos?
O analista Wilker Dias considera que Chang poderá também querermanter a lealdade aos principais atores envolvidos no caso.
"Acredito que ele seja um dos maiores responsáveis nesta história. Mas existem outros atores relevantes para o contexto nacional que deveriam estar em conluio com ele. Por isso abre-se essa possibilidade de guardar a lealdade e levar as culpas para si.”
A sociedade civil moçambicana sempre deixou claro que preferia ver o ex-ministro julgado nos EUA, por não confiar inteiramente na independência da Justiça nacional. A esperança é que Chang revele em Nova York o paradeiro de centenas de milhões desaparecidos, assim como o nome da pessoa que o autorizou a assinar os títulos de dívida ilegais.
Dias disse à DW África que tudo dependerá de Chang querer ou não cooperar com a justiça americana. Reconhece que a maioria dos moçambicanos saúda a extradição para os EUA, mas adverte: "Eu acredito que poderemos fragilizar um pouco a nossa justiça”.
Prestar contas à Justiça em Moçambique
O analista Alfazema lembra que o interesse dos americanos em Manuel Chang não anula as acusações de que é alvo pela Justiça moçambicana. "Chang vai ser julgado nos Estados Unidos face às acusações que recaem sobre ele perante as leis americanas. Mais ainda vai ter que responder às acusações levantadas contra ele em Moçambique”, diz Alfazema, que acredita que "a maior responsabilização poderá acontecer em Moçambique”.
Para o analista Wilker Dias, os moçambicanos só ficarão a ganhar com o julgamento caso haja alguma nova revelação: "Se não houver nenhuma revelação, não creio muito que isto venha a trazer algum benefício para o povo moçambicano”.