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Casamentos precoces em Angola preocupam a UNICEF

Joana Rodrigues10 de julho de 2015

A UNICEF discutiu esta semana, em Angola, o casamento infantil, situação recorrente no país, e que envolve crianças entre os 11 e os 15 anos. Gravidez precoce e maior risco de VIH-SIDA são algumas das consequências.

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Luanda, capital de Angola, foi palco do evento “Jango Casamento Infantil”Foto: picture-alliance/Alan Gignoux/imagestate/Impact Photos

A UNICEF organizou esta semana um encontro em Luanda para debater o tema do casamento precoce. O evento “Jango Casamento Infantil” reuniu convidados de várias áreas da saúde, educação, justiça e economia.

A organização mostrou-se preocupada com o elevado número de casamentos precoces em Angola. Durante o encontro “Jango Casamento Infantil”, também o Instituto Nacional da Criança (INAC) admitiu que a realidade do país aponta para uma situação grave, envolvendo crianças entre os 11 e os 15 anos.

Embora seja um problema preocupante, as instituições admitem não ter dados concretos sobre o número de casos em Angola, baseando-se apenas nas informações fornecidas pelas maternidades.

Ana Patrícia Silva, da UNICEF Angola, refere que este problema está muito associado a práticas culturais e à pobreza que assola o país.

“Este é um problema em termos internacionais. Angola também sofre deste fenómeno, mas não é o caso mais grave comparado com outros países, como Burkina Faso ou Níger, o que não invalida que se tenham que tomar medidas protetivas em relação às raparigas. Esta prática está relacionada com tradições, com crenças, e também com a pobreza no país.”

Ana Patrícia Silva UNICEF Angola
Ana Patrícia Silva, da UNICEF AngolaFoto: UNICEF

Este fenómeno ocorre tanto em zonas rurais como urbanas em Angola. A especialista destacou que nas zonas rurais, “a adolescente é motivada, muitas vezes pelos próprios pais, a casar, e considera que tendo uma relação com um homem mais velho isso lhe vai dar alguma segurança económica no futuro. No entanto, a criança fica evidentemente vulnerável perante o marido, que pode ser 10 ou mais anos mais velho. Os rapazes também estão sujeitos a este fenómeno, mas atinge essencialmente as meninas.”

Risco de gravidez precoce

Deste problema derivam outros, sublinha Ana Patrícia Silva. “Ao casamento infantil associa-se o fenómeno da gravidez precoce, que naturalmente é sempre uma gravidez de risco. As adolescentes em geral não estão preparadas, quer física, quer psicologicamente para contrair casamento, e portanto estão também mais sujeitas a terem uma gravidez prematura. Isso vai ter implicações na sua saúde. Infelizmente algumas meninas têm problemas na gestação e acabam mesmo por falecer, ou então são sujeitas a cirurgias que depois lhes trazem dificuldades de fertilidade.”

A UNICEF sublinha que são necessárias mais medidas de proteção das crianças e a difusão de mais informação adequada às comunidades, para acabar com esta prática.

“Em Angola têm de se fazer várias ações de sensibilização para alertar os pais e os líderes comunitários e religiosos para a gravidade da situação que é sujeitar uma menina a um casamento prematuro, devido a todas as consequências negativas que advêm daí. A criança fica praticamente sem infância e é obrigada a ter responsabilidades que não são próprias da sua idade. A este fenómeno também está associado o risco de contrair doenças como o VIH-SIDA e outras, e pode ter outras consequências, como a desistência escolar, dificuldades futuras no acesso ao emprego e na sua possibilidade de contribuírem eficazmente para o desenvolvimento do país.”

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Em todo o mundo, estima-se que mais de 700 milhões de mulheres se tenham casado antes dos 18 anos. A maioria dos casos ocorre no Sul da Ásia e na África subsaariana. Moçambique, Burkina Faso, Níger e Nigéria estão entre os países onde a situação é mais grave.