Casamentos forçados: Jovens resgatadas em Inhambane
22 de agosto de 2019A maior parte das meninas resgatadas vivem nos distritos de Jangamo, Panda, Govuro, Funhalouro e Mabote, zonas em que é comum a pobreza absoluta. Os casamentos precoces acabam por ser uma forma de os pais conseguirem dotes, que se traduzem em dinheiro, cabeças de gado, roupas e até bebidas alcoólicas, entre outras exigências.
Há várias organizações no terreno a resgatar raparigas que casaram antes da idade permitida por lei. Mas depois disso é preciso acompanhar os casos e reintegrar as jovens nas escolas, lembra Moisés Mutuque, gestor do projeto de saúde sexual e reprodutiva para adolescentes e jovens da organização não-governamental Plan International em Inhambane.
"É uma criança que faz parte de uma escola. Queremos fazer um trabalho de seguimento com a família onde a criança nasceu, com a famíla onde está casada e com o setor da educação, porque uma união prematura tem logo a seguir a consequência da gravidez", explica.
Muitas vezes, como forma de sobrevivência, as meninas são forçadas pela família a casar-se com jovens e homens nas comunidades. Mas também há casos de jovens que começam a namorar muito cedo e abandonam a casa dos pais para se casarem, ainda antes de atingirem a maioridade.
Henriques Bento conta que a sua filha foi obrigada a casar. No ano passado, os pais do suposto marido obrigaram a menina a fugir de casa, e, depois, ela ficou grávida. "Quando nós descobrimos, falamos com os pais porque a menina ainda é menor de idade. Fugiu daqui de casa (para se entregar ao jovem)", diz. Entretanto, a menina foi resgatada pela ONG Plan International.
Fatores culturais dificultam resgate
Olga Macupulane, presidente da Malhalhe, uma organização vocacionada para a promoção da rapariga nas comunidades, disse à DW África que o processo de resgate das meninas não tem sido fácil, sobretudo por causa de fatores culturais.
Por isso, mesmo apesar da lei que proíbe os casamentos precoces, ainda há muito trabalho pela frente para se ultrapassar este problema.
"Conseguimos resgatar algumas crianças que tenham tido uniões forçadas no passado, que possam voltar a escola. É um processo longo. Não é fácil porque tem a ver com questões culturais de cada comunidade como forma de dignificar a família. Nós podemos ter a lei que contrapõe isso, mais ainda temos muito que fazer", explica Olga Macupulane.