Carlos Gomes Júnior e Raimundo Pereira estão bem, dizem militares
13 de abril de 2012O corresponde da Lusa em Bissau, Fernando Peixeiro, faz um pequeno filme dos acontecimentos: "A noite foi um pouco confusa, ao início da noite os militares saíram para as ruas, fecharam algumas ruas. Entre as 20 e as 21 horas ouviram-se tiros de metralhadora e de armas pesadas. A zona onde residia o primeiro-ministro e o Presidente da República interino esteve interditada. Havia pessoas em fuga, muita gente a tentar fugir do centro de Bissau”.
Ao início da noite de quinta-feira, em Bissau, as Forças Armadas ocuparam as instalações da Rádio Nacional e a sede do partido no poder, o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde).
Várias rádios foram silenciadas e também a TGB, Televisão da Guiné-Bissau. Em simultâneo os militares guineenses detiveram o Presidente interino, Raimundo Pereira, e atacaram com armamento pesado a casa do primeiro-ministro cessante Carlos Gomes Júnior.
Segundo a agência Lusa, o porta-voz das Forças Armadas da Guiné-Bissau garantiu, ao final do dia desta sexta-feira, aos jornalistas na capital guineense que os dois políticos “estão bem”.
Motivações étnicas?
Há muito que os analistas previam um novo golpe de Estado na Guiné-Bissau, ou pelo menos o afastamento pelos militares de Carlos Gomes Júnior.
Embora se desconheça quem esteja por detrás dos militares em rebelião há contudo duas figuras possíveis que se cruzam na análise: uma é o ex-presidente Kumba Ialá outra o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, António Indjai.
Alix Pierre professor de jornalismo em Bissau pensa que “por detrás de tudo isto poderá estar um laço étnico entre os militares e Kumba Ialá. A etnia Balanta é maioritária e tudo o que se passa está relacionado com a etnia Balanta no poder. Mas eu não posso confirmar que Kumba Ialá esteja por detrás de tudo isto porque os militares no comunicado não disseram nada de concreto”, afirma.
Recorde-se que horas antes das movimentações militares, Kumba Ialá disse recusar-se disputar a segunda volta por considerar que a primeira foi fraudulenta. Em conferência de imprensa o líder do PRS disse que nos próximos 15 dias iria "formar e reforçar" as estruturas de base do seu partido que "vai estar no terreno para ver quem avança para a campanha".
Questionado sobre se essa posição era uma ameaça afirmou: "nós já dissemos que não haverá campanha para ninguém, já afirmamos e repetimos várias vezes que não haverá campanha a nível nacional. Caso vier alguém a fazer campanha a responsabilidade será desse alguém e as consequências serão dessa pessoa, porque eles sabem que não há condições para que alguém faça campanha".
Uma paz há muito podre
Também o general Indjai, crítico da presença da missão angolana na Guiné-Bissau, Missang, apoiada pelo primeiro-ministro, poderá estar por detrás deste golpe.
Num comunicado divulgado esta sexta-feira, o autointitulado Comando Militar diz que “não ambiciona o poder”, mas alega ter sido forçado a agir para defender as Forças Armadas guineenses de uma suposta agressão que seria conduzida pelas Forças Armadas de Angola no âmbito da União Africana.
“Cadogo”, como é conhecido o primeiro-ministro cessante e candidato presidencial e o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, António Indjai, viviam uma “paz podre” desde o golpe militar de abril de 2010.
Nesta altura o general Indjai ameaçou de morte Gomes Júnior. Também não agradaria a Indjai a influência e o prestígio que Carlos Gomes Júnior goza junto de Angola e da comunidade internacional e o empenho deste em travar o poder dos militares que, há décadas, mantém o Estado guineense como refém. Para já instalou-se um vácuo de poder na Guiné-Bissau e o país faz jus a sua triste fama de ser um Estado muito perto de falhado.
Autora: Helena Ferro de Gouveia
Edição: Glória Sousa / António Rocha