Campanha porta-a-porta contra febre-amarela não teve lugar
14 de junho de 2016Em maio, a coordenadora provincial de Luanda do Programa Alargado da Vacinação (PAV), Felismina Neto, tinha anunciado a realização de uma "campanha porta-a-porta" com duração de 15 dias. Na altura, tinha-se garantido a disponibilização dos meios técnicos e humanos, assim como das vacinas necessárias.
A DW Africa visitou vários municípios, mas em nenhum deles se tinha realizado qualquer campanha porta-a-porta. Afonso Quileba, secretário provincial adjunto do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda, confirma que a campanha porta-a-porta, em Luanda, nunca saiu do papel: “A campanha porta-a-porta não foi realizada, em Luanda. A não ser que tenha sido realizada noutras províncias. A campanha de febre-amarela não é idêntica à da pólio, é uma campanha que requer muitos cuidados, porque as próprias vacinas não devem ser expostas aos raios solares”.
Felismina Neto, coordenadora do Programa Provincial Alargado de Vacinação, disse ter havido mal-entendido: "O objetivo não era uma campanha de vacinação porta-a-porta para a província de Luanda, mas sim uma vacinação que visava atingir os 9% da população que ainda não tinham sido vacinados."
Peritos europeus estiveram em Angola
Em entrevista exclusiva à DW Africa, o representante da União Europeia em Angola, Gordon Kricke, disse que a delegação que dirige tem mantido encontros com as autoridades sanitárias angolanas e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A delegação disponibilizou 30 milhões de euros para o sector da saúde e acrescentou que recentemente estiveram em Angola peritos de vários países europeus para se inteirarem sobre a situação da febre-amarela: “Mantivemos contacto com as autoridades angolanas. O ministro da saúde explicou-nos as prioridades do seu trabalho e, claro, vamos poder colaborar com a equipa que esteve no terreno para a avaliação da situação”.
A situação e os possíveis riscos constatados pelos peritos da união europeia serão conhecidos quando se publicar o relatório que está a ser preparado, segundo o representante. “Está-se na fase de preparação do relatório. Uma vez preparado e finalizado este relatório vai transmitir uma recomendação para o Governo de Angola e as instituições europeias", afirma o representante da União Europeia em Luanda.
OMS: Angola exporta febre-amarela para outros países africanos
A Organização Mundial da Saúde estima que já se registaram casos de febre-amarela, importados de Angola, na República Democrática do Congo, no Quénia e na China. Questionado sobre se a propagação da doença vai afectar a circulação de cidadãos angolanos na Europa, o embaixador respondeu que não é ainda o momento certo para falar sobre o assunto, e avançou: “O mais importante é a vacinação. O certificado de vacinação é obrigatório para entrar em Angola, assim como noutros países da região. Isso, com certeza, vai contribuir para lutar contra a doença”.
A pior epidemia de febre-amarela das últimas décadas
O primeiro caso de febre-amarela foi diagnosticado em Viana, arredores da cidade de Luanda, a 5 de Dezembro de 2015. Entretanto, as autoridades sanitárias admitem que o surto já chegou a 16 das 18 províncias e a 77 dos 166 municípios de Angola. Recentemente foram diagnosticados novos casos de transmissão nas regiões de Cuango, Lunda-Norte e Cacuso, em Malanje.
A primeira fase da campanha de vacinação contra febre-amarela foi realizada em fevereiro deste ano. As autoridades estimam que 90 por cento da população de Luanda já foi vacinada.
Os últimos surtos de febre-amarela registaram-se nos anos 1971 e 1986. A OMS classificou a epidemia que surgiu em 2015 como a mais grave nos últimos 30 anos e esperava que até maio a doença fosse controlada. A febre já fez 328 mortos num total de 2.954 casos diagnosticados.