Caminho aberto para o quinto mandato de Guelleh no Djibuti
9 de abril de 2021Dois candidatos disputam as eleições presidenciais no Djibuti esta sexta-feira (09.04). O Presidente Ismael Omar Guelleh, chamado de IOG, tenta o quinto mandato e está a ser desafiado pelo empresário Zakaria Ismail Farah, de 56 anos. Cerca de 215 mil cidadãos estão habilitados a votar.
IOG, de 73 anos, está há 22 no poder e, segundo analistas locais, é o favorito para vencer mais este pleito. Caso a vitória se confirme, muitos consideram que este deverá ser o seu último mandato presidencial.
Mohamed Idriss Moussa é trabalhador portuário, e passou as últimas semanas ansioso por votar porque confia na vitória de IOG. "Estamos muito orgulhosos porque vemos todo o desenvolvimento que ele fez, o esforço que ele faz pelo país e o seu patriotismo. Ele é o Presidente que queremos manter para mais um mandato", revela.
Boicote da oposição
Os principais partidos da oposição boicotaram as eleições, deixando Zakaria Ismail Farah - um novato na política, empresário do setor de importação de produtos de limpeza - como único adversário de Guelleh.
Os cartazes de campanha são escassos na capital, onde reside a maioria da população, de quase 1 milhão de habitantes. Na capital Djibuti, é onde quase 530 mesas de voto abriram as suas portas.
Guelleh, que obteve pelo menos 75% dos votos em cada eleição presidencial que disputou, realizou o seu último comício de campanha na quarta-feira, exortando os eleitores a comparecerem em grande número.
O candidato da oposição, Zakaria Farah, acusa o Governo de não lhe ter oferecido segurança aos seus comícios. Como resultado, há 10 dias das eleições, Farah cancelou o resto dos comícios previstos.
O empresário se apresenta como "portador da bandeira dos pobres djibutianos". No mês passado, o candidato causou polémica ao surgir com os pulsos amarrados e amordaçado num dos seus comícios, para protestar contra o "tratamento desigual".
Imensos desafios
O Djibuti está localizado no Chifre de África, numa das rotas comerciais mais movimentadas do mundo - o cruzamento entre África e a península árabe. Mais de 10% de todo o comércio mundial passa ao longo da costa do Djibuti.
O país tem explorado esta vantagem geográfica, investindo fortemente em portos e infraestruturas logísticas, mais ainda é preciso fazer mais. "Temos de pensar no desenvolvimento do nosso país, trabalhar no nosso desenvolvimento. Ninguém o fará por nós se não tratarmos do assunto. É preciso fazer o seu dever, jovens e idosos", defende o Presidente.
Entretanto, Hassan Khannenje, diretor do Instituto Internacional de Estudo Estratégicos (HORN), em Nairobi, considera que Ismael Omar Guelleh não levou prosperidade ao Djibuti durante os quatro mandatos presidenciais que já cumpriu.
"Djibuti é ainda um dos países mais pobres da região. As pessoas ainda são muito pobres. Não há evidências de que a situação económica tenha melhorado em comparação com os países vizinhos", constata.
Amigo das potências
Dados do Banco Mundial indicam que cerca de 20% da população vive em extrema pobreza, e 26% estão desempregados. Apesar de ser um país pequeno, grandes potências económicas procuram garantir a presença militar no Djibuti.
Estados Unidos, França, China e Japão, entre outros países, têm mantido bases militares no Djibuti durante vários anos. A Arábia Saudita e a Índia poderão juntar-se a esta lista em breve. Annette Weber, especialista do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança, crê que esta presença militar pode garantir alguma segurança ao Djibuti. "Isto pode, em última análise, ser uma vantagem para a economia local".
Mas Khannenje entende que o aparato de segurança também está a ser usado para limitar a liberdade de expressão. "E limitou o espaço democrático ou o surgimento de partidos políticos e organizações da sociedade civil que podem ser fortes a ponto de exigir mudanças democráticas no país", explica.
Economicamente - a semelhança do que tem estado a acontecer com muitos países africanos - o Djibuti tornou-se um grande aliado da China. O país africano quer ser uma plataforma comercial e logística. Por isso, em 2018, lançou a primeira fase do que será a maior zona de comércio livre de África, financiada pela China.
Com empréstimos de bancos chineses, o Governo de Guelleh implementou vastos projetos de infraestruturas - incluindo a linha ferroviária entre Adis Abeba e Djibuti, o porto e uma zona económica especial.