Separatistas prometem "fazer tudo" para sabotar o CAN
14 de janeiro de 2022A família de Henry Kemende está inconsolável. O advogado e senador da oposição foi arrancado do seu carro e morto a tiro por desconhecidos.
"Trabalhei com ele durante seis anos, no mesmo escritório, é como se estivesse a sonhar. É insuportável", diz o seu sobrinho e colega Luma Elvis Brown.
O Exército camaronês, na voz do general Valere Nkah, aponta o dedo aos grupos armados que reivindicam a independência das duas regiões de língua inglesa sob o nome de "Ambazónia".
"Eles mataram-no, mas não temos os detalhes. As forças de segurança vão investigar", comenta.
O senador Kemende era um crítico feroz da forma como o Governo camaronês lida com a crise nas regiões de língua inglesa. A sua morte é mais um sinal do agravamento da violência. Nos últimos dias, um líder tradicional também foi morto e um magistrado foi sequestrado.
Na cidade de Buea, sul do país, onde algumas das equipas que participam na Taça das Nações Africanas estão alojadas, confrontos entre grupos armados e o Exército resultaram na morte de duas pessoas.
"CAN é um insulto"
Os separatistas lançaram o alerta à população para não circular em torno dos hotéis que albergam as delegações desportivas ou do estádio de Limbé, onde terão lugar alguns dos jogos.
"Faremos tudo o que é humanamente possível para sabotar este CAN e deter qualquer pessoa que viole o boicote e entre no nosso território no meio desta guerra", ameaçou Capo Daniel, chefe adjunto para a Defesa do Conselho do Governo da Ambazónia.
Segundo Daniel, a competição é "um insulto à dor do nosso povo oprimido. Por isso, qualquer visitante que venha ao nosso território ambazónio não é bem-vindo, porque esta Taça das Nações Africanas despreza a opressão do nosso povo, a nossa luta pela autodeterminação".
À medida que o conflito se agrava, ativistas alertam para as crescentes violações aos direitos humanos no país. O Governo insiste que o Exército vai derrotar os separatistas, mas há cada vez mais apelos a um diálogo inclusivo como a única saída para a crise que já dura há mais de cinco anos.