Camarões: Campanha eleitoral arranca em clima de conflito
22 de setembro de 2018Paul Biya, presidente do país desde 1982 procura a reeleição neste ato eleitoral que não se prevê pacífico, já que os separatistas anglófonos estão decididos a impedir a ida às urnas naquele a que chamam estado independente da Ambazónia.
São muitas as pessoas que se encontram no Parque "Mile 17" na cidade de Buea, no sudoeste do país. Esperam a chegada de um autocarro que as leve para fora da região. O governador Bernard Okalia Bilai tenta demovê-las desta ideia e pede que voltem para suas casas.
"Há notícias falsas de que o exército vai atacar, mas não [é verdade], o exército não está a lançar ataques. Está lá para proteger a população e as suas propriedades. Está lá para neutralizar esses ataques,” argumenta.
O governador tem visitado o parque quase todos os dias para tentar impedir o êxodo em massa de moradores das regiões anglófonas mais afetadas.
John Nlom é professor e está de partida com a sua esposa e os cinco filhos. Diz não confiar nas garantias dadas pelo governador no que toca à questão da segurança.
"O próprio governador, que diz que as pessoas deviam voltar para trás, porque estão seguras aqui, tem soldados a garantir a sua proteção. Os soldados conseguirão proteger todas as pessoas? Esta é a razão pela qual não posso ficar. Tenho que ir," afirma.
Sem motivação para votar
Nas últimas três semanas, diz o Governo, milhares de pessoas fizeram as malas e partiram. Eles não se importam muito em votar numa eleição, que entendem, que não será livre e justa, diz Prince Ekosso, presidente do Partido Socialista Democrata Unido.
"É impossível que eleições credíveis ocorram no noroeste e sudoeste. De fato, as cidades e vilas do noroeste e do sudoeste estão desertas. E já é tarde para que alguma coisa seja feita para que hajam eleições livres e justas nestas duas regiões," avalia.
Os candidatos às presidenciais têm viajado pelo país encorajando os eleitores a votar. Mas Frank Afanui, do Movimento Nacional de Cidadania dos Camarões, foi, até agora, o único a deslocar-se à região sudoeste.
Na capital do país, Yaoundé, Maurice Kamto, candidato do Movimento para o Renascimento dos Camarões, afirma que os separatistas devem permitir que as pessoas votem pois, só assim, acrescenta, será possível a mudança do sistema pela qual tanto lutam.
Conflitos nas regiões anglófonas
Os conflitos nos Camarões tiveram inicio em outubro de 2017, quando os separatistas anglófonos exigiram a independência das regiões de língua inglesa por se sentirem marginalizados pelos falantes de francês, a maioria no país.
Joshua Osih, candidato do maior partido da oposição, a Frente Democrata Social, afirma ter uma solução para o conflito.
"O problema não é a separação. É a marginalização e injustiças que levam a essa separação. Para mim, a separação não resolverá, necessariamente, o problema. Há que resolver primeiro a questão da marginalização. Assim que for eleito, uma das minhas primeiras decisões será reconhecer que este é um problema político," garante.
A Comissão Eleitoral dos Camarões (ELECAM) tem-se reunido, frequentemente, com os partidos políticos para perceber o que pode ser feito para que as eleições ocorram pacificamente nas sub-regiões. Ainda que os eleitores estejam a fugir destas regiões, a Comissão Eleitoral organizará as eleições para os que ficarem, garante a sua presidente Enow Egbe.
"Em termos de medidas de segurança, sentimos que era necessário reagrupar as assembleias de voto em centros de votação e muitas considerações foram tomadas," garante.
Não é esperado que o Presidente Paul Biya realize qualquer ação de campanha nas regiões de língua inglesa.