Cabo Verde: "Caçar nevoeiros" para produzir água
Projeto "Caçadores de nevoeiro” tem ajudado a colmatar os efeitos da seca e da escassez de água na ilha da Brava, em Cabo Verde, de forma sustentável.
"Caçar" água de nevoeiros para combater a seca
Na ilha da Brava, nevoeiros estão a ser "caçados" para se obter água. Isso acontece graças ao projeto "Caçadores de nevoeiros", uma iniciativa da Associação de Conservação da Biodiversidade (Biflores), implementada há cinco meses, com o financiamento da ONG francesa Smilo.
Condições naturais favoráveis
A existência de condições naturais favoráveis (nevoeiro e vento) foi decisiva na criação deste projeto. Contudo, não é uma prática nova na ilha, pois, há pessoas que já faziam isto, mas de forma rudimentar. A grande diferença é que os "caçadores de nevoeiro" usam técnicas mais avançadas e mais eficientes.
Uma resposta às mudanças climáticas
O projeto "Caçadores de nevoeiros" foi criado para colmatar a escassez de recursos hídricos na Brava e visa ajudar na restauração ecológica em zonas altas. Parte da água captada é usada na rega de plantas endémicas fixadas pela Biflores. A ilha tem sofrido com as consequências das secas severas que afetam o país há vários anos.
Três captadores de neblina instalados
"Neste momento, temos três coletores instalados, cada um com a sua singularidade. A ideia é testarmos a capacidade de captação de cada um deles para vermos qual é que se adapta melhor à área", diz o diretor da Associação de Conservação da Biodiversidade, Biflores, Dheeraj Jayant.
Centenas de litros de água captadas
São 700 a 1000 litros de água captados, diariamente, pelos três painéis de coleta instalados. Dheeraj Jayant explica que a quantidade de água que é coletada por dia depende de fatores como: a intensidade do vento e de nevoeiro. Ou seja, quanto maior for a intensidade do vento e de nevoeiro maior será quantidade de água captada.
Coletores construídos manualmente
Os coletores foram construídos à mão por membros da Biflores, após uma formação nas ilhas Canárias. Foram feitos com troncos de árvores mortas, bambu e redes mosquiteiras, que funcionam como barreira de captação, e lona, da qual é feita a calha, que fica ao pé dos painéis, instalados na vertical.
Como funciona?
Os coletores estão fixados na direção do vento, que empurra o nevoeiro para as barreiras de captação que, por sua vez, transformam as partículas de água presentes no nevoeiro em gotas maiores, que escorrem depois para as calhas. Dali, a água é canalizada para os reservatórios, através de uma tubulação.
Impactos na vida dos criadores de gado
O projeto está a ter impacto positivo na vida de vários criadores de gado. "Agora, eles têm menos dificuldades em obter água", diz o diretor da Biflores, que cita o exemplo de uma família que, antes, transportava água de burro a vários quilómetros. Mas, agora já não precisam de fazer mais isso.
O próximo passo
Aumentar a capacidade de captação é o próximo desafio da Biflores. Isto, para atender o aumento constante da demanda por mais recursos hídricos na menor ilha de Cabo Verde, cuja população representa, segundo dados do INE, apenas 1,1% do país. Dheeraj Jayant diz que isso implicará a busca de novos parceiros e financiamentos.