Cabo Delgado: Governo ainda não se pronunciou sobre ataques
6 de junho de 2018Só em menos de dez dias, 17 pessoas foram mortas por homens armados, até agora não devidamente identificados. Este tipo de ataques começou há oito meses e a sua frequência aumenta, tal como a brutalidade contra a população.
Em reação ao ataque de 27 de maio, em que foram decapitadas dez pessoas a catana, adolescentes e adultos, perto de Olumbi, na região de Palma, David Machimbuko, administrador de Palma, valoriza a coragem da população e descreve o que tem sido feito para confrontar a situação.
"Nós, para além de sermos população, temos a capacidade de lutar e enfrentar o inimigo. Daí, juntaram-se às Forças de Defesa e Segurança e foram fazer uma caça aos bandidos, a busca dos malfeitores onde se encontram. E fez-se uma campanha que resultou na morte de malfeitores. Eram 278 populares que juntaram as forças e fizeram a campanha de vasculha nas matas", explicou à DW África.
Justiça popular
Entretanto, alguma imprensa moçambicana (nomeadamente, Canal Moz 04.06) acredita que as pessoas mortas pelas Forças de Defesa e Segurança poderiam ser populares que andavam a caçar. Confrontado com esta suposição, David Machimbuko descarta a possibilidade da morte de inocentes.
"Não, não eram caçadores. No sítio havia vestígios que demonstraram claramente que eram os malfeitores, porque foi na zona onde aconteceram exatamente essas situações. Caçadores nunca vão para uma zona em número de trinta. Foi encontrado lá um carregador com 39 munições. Até aqui a perseguição continua. Já atravessaram para o leste e já estão a correr para o oeste, numa zona em que sabemos que, por causa da floresta, estão à procura de um melhor refúgio", justifica.
Ao que parece, o administrador de Palma pode ter-se enganado em relação à fuga. Cerca de uma semana depois, na madrugada de segunda-feira (04.06), aconteceu um outro ataque que fez sete mortos. Foram ainda incendiadas várias casas, barracas de comércio e dois carros de transporte coletivo. Além disso, terão sido roubados medicamente de um centro de saúde que foi também vandalizado.
Entretanto, o Governo deixa transparecer dificuldades em reconhecer que a situação se agrava e que está difícil travar tais atos. Apesar da gravidade, o analista Paulo Wache ainda não vê necessidade de uma intervenção do exército.
Força policial é a mais adequada
"O exército lida com o inimigo. E antes de se chegar à conclusão de que essas pessoas são inimigas, ou que vêm do exterior e têm a missão de aniquilar o Estado, seria um exagero o exército. É que em termos de meios, os que são usados pelo exército seriam desproporcionais.
Paulo Wache acrescenta que a força policial continua a ser a mais adequada para o caso, mas necessitará do apoio da população para obter informações.
"Movimentos irregulares como esse combatem-se muito mais com inteligência do que com a força das armas", defende.
A consternação tomou conta dos moçambicanos. Outros estão duplamente desolados pelo facto de o Governo não ter dirigido até agora qualquer mensagem de conforto às famílias das vítimas e às comunidades visadas.
Paulo Wache defende que os pronunciamentos frequentes da polícia refletem a posição do Governo. Mas reconhece que, quando houver mais informações, o Governo deva também reagir.
"Faz sentido que quem está a gerir um Estado tenha que falar com propriedade e não apenas dizer sentimos muito e parar por aí. Mas penso que, no momento oportuno, esta comunicação deverá acontecer talvez com mais detalhes”, declarou à DW.