Cabo Delgado: Número de mortos por terrorismo desce em 2023
18 de março de 2024No Relatório da Avaliação Nacional dos Riscos de Financiamento do Terrorismo, o Governo moçambicano refere que a "taxa de atos terroristas em análise anual comparativa foi 'média' para os anos de 2017 e 2018, 'alta' em 2019, 'muito alta' nos anos 2020 e 2021, 'alta' em 2022 e 'media' em 2023".
"No mesmo período a taxa de mortalidade, resultante de ataques indiscriminados à população em 2017 e 2018, foi 'média', entre 2019 a 2022 'muito alta', estando acima de 250 mortos por ano. Atualmente a tendência é decrescente tendo baixado para menos de 100 mortos em 2023, classificando-se como 'média'", lê-se no documento, com dados até 2023, a que a Lusa teve acesso.
No relatório refere-se mesmo que no período de 2019 a 2020 registaram-se mais de uma centena de ataques em Cabo Delgado.
"Durante este período, os atos terroristas consubstanciaram-se em assassinatos (decapitações), raptos, extorsão, exploração e escravização sexual, casamentos forçados, pilhagem de bens e produtos da população, bancos e dos agentes económicos, incêndios a casas, imposições de ideologia islâmica radical, intimidações e ameaças de morte, entre outras práticas", aponta-se igualmente.
Acrescenta-se que os atos terroristas deixaram em Cabo Delgado, norte de Moçambique, "marcas de dor, danos mortais, responsáveis por cerca de 900.000 deslocados internos, destruição de instituições públicas e privadas, paralisação de atividades comerciais e prestação de serviços básicos, e recuo do investimento estrangeiro no país".
400 empresas afetadas
Na área empresarial, citando a Federação Nacional das Associações Agrárias de Moçambique, refere-se que "mais de 400 empresas foram afetadas e cerca de 56 mil postos de trabalho foram perdidos" localmente.
"O distrito de Mocímboa da Praia figura como o mais afetado, com cerca de 40% de empresas, 23% dos postos de trabalho perdidos devido aos ataques terroristas", aponta-se no documento.
Ainda no relatório é referido que "o nível da ameaça da atividade terrorista" em Moçambique foi, até 2021, "muito elevado", dada a ação no norte do país do grupo terrorista Ahlu Sunnah Wal Jamaah (ASWJ), também conhecido internacionalmente como ISIS-Moçambique e, localmente designado por Al-Shabab, o qual "tinha potencial de se expandir para outras regiões do país para protagonizar ataques terroristas e poderia até expandir-se para outros países vizinhos".
"O ASWJ tem como canais de financiamento ao terrorismo os serviços de moeda eletrónica, contrabando, levantamentos em dinheiro, sistema hawala [transferência internacional de dinheiro que não envolve intermediários bancários], transferências bancárias (...) Contudo, este grupo privilegia o uso de serviços de moeda eletrónica e contrabando de recursos naturais, como um dos principais canais de financiamento ao terrorismo, por esta ser uma das vias mais rápidas e eficazes para canalizar os seus fundos. No sistema bancário existem mecanismos de controlo mais acirrados, o que facilita o rastreio dos mesmos", lê-se no documento.
Novos ataques
Depois de vários meses de relativa normalidade nos distritos afetados pela violência armada em Cabo Delgado, a província tem registado, há algumas semanas, novas movimentações e ataques de grupos rebeldes.
A nova vaga de ataques terroristas em Cabo Delgado provocou 99.313 deslocados em fevereiro, incluindo 61.492 crianças (62%), segundo uma estimativa divulgada esta semana pela Organização Internacional das Migrações (OIM).
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, alertou na semana passada que o terrorismo pode dividir o país, defendendo a união de todos para combater os grupos rebeldes na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.