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Cabo Delgado: Assassinados oito trabalhadores do gás

Lusa | mc
6 de julho de 2020

Vítimas do ataque armado trabalhavam numa empresa de construção subcontratada do megaprojeto de gás que avança em Cabo Delgado. Há outros três trabalhadores desaparecidos.

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Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier

A morte dos trabalhadores foi divulgada este domingo (05.07) num comunicado da Fenix Construction. O ataque armado que vitimou os oito funcionários aconteceu a 27 de junho, segundo o relato da companhia que atua no megaprojeto de gás na província moçambicana de Cabo Delgado. 

A viatura em que seguiam os trabalhadores foi atacada quatro quilómetros a norte de Mocímboa da Praia, no mesmo dia em que a vila esteve sob ataque - com confrontos que se prolongaram pelos dias seguintes -, cerca de 70 quilómetros a sul do recinto de construção do empreendimento liderado pela petrolífera Total.   

Dos 14 ocupantes, além dos oito mortos, três fugiram para o mato e sobreviveram enquanto outros três continuam desaparecidos.   

Insurgentes disfarçados

A viatura em que seguiam "foi atacada por cinco insurgentes vestidos de uniforme do exército militar similar ao das Forças de Defesa de Moçambique", lê-se no comunicado da Fenix Construction.

Mosambik Straßenschild an der Regionalstraße R762
Foto: DW/A. Chissale

"Bloquearam o veículo e logo a seguir abriram fogo, tendo matado imediatamente o motorista" e "no mesmo instante três ocupantes que sobreviveram conseguiram fugir e entrar no mato".

Um deles percorreu a mata até chegar à aldeia de Quelimane, onde passou a noite, antes de conseguir uma boleia de motorizada e retornar a Palma, capital do distrito onde decorrem as obras das petrolíferas.

"Os outros dois sobreviventes continuaram escondidos no mato por vários dias, na área próxima ao local da emboscada" e voltaram a Palma na quarta e quinta-feira (02.07).

Corpos resgatados

Uma empresa de segurança privada contratada pela Fenix conseguiu resgatar para Palma os corpos dos oito homens mortos e "sob instruções das autoridades locais de Palma, foram enterrados na sexta-feira" (03.07), diz o comunicado.

As autoridades ainda não se pronunciaram sobre o ataque a Mocímboa da Praia na última semana, o mais recente de uma série de incursões terroristas de violência crescente desde março e reivindicadas pelo grupo jihadista Estado Islâmico.

Mosambik Mocímboa da Praia
Foto: DW/G. Sousa

Após confrontos com as Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique, com infraestruturas destruídas, energia e comunicações limitadas, a informação vai surgindo a conta gotas.

Fonte militar disse à agência de notícias Lusa suspeitar-se que os rebeldes continuam misturados com famílias fora da vila e por isso "as buscas e perseguição continuam".

Vila destruída

A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) divulgou domingo (05.07) imagens que mostram a igreja de Mocímboa da Praia totalmente destruída depois de ter sido incendiada durante o ataque.

Outras imagens distribuídas por residentes mostram que foram igualmente destruídas a escola secundária, o hospital, lojas, dezenas de casas particulares, viaturas e outros bens.

Vítimas de ataques em Cabo Delgado em fuga pela vida

Os confrontos entre as FDS e os grupos armados provocaram nova fuga em massa da população. Mocímboa da Praia já tinha sido invadida e ocupada durante um dia por rebeldes em 23 de março, numa ação depois reivindicada pelo Estado Islâmico.

Escalada de violência

Os confrontos do fim de semana são os maiores de que há relato em Cabo Delgado desde a ocupação por insurgentes da vila de Macomia, entre 28 e 30 de maio, e consequente confrontação com as FDS moçambicanas.

Mocímboa da Praia é uma das principais vilas da província, situada 70 quilómetros a sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total.

A violência armada intensificou-se desde março, mas já dura há dois anos, provocando a morte de, pelo menos, 700 pessoas e uma crise humanitária que afeta cerca de 211.000 residentes.

As Nações Unidas lançaram, no início de junho, um apelo de 35 milhões de dólares (30 milhões de euros) à comunidade internacional para um Plano de Resposta Rápida para Cabo Delgado para ser aplicado de maio a dezembro.

Bispo de Pemba #explica situação humanitária em Cabo Delgado

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