Cabinda: MIC reivindica libertação de ativistas detidos
22 de fevereiro de 2019As autoridades angolanas detiveram, no passado dia 28 de janeiro, 63 ativistas ligados ao Movimento Independista de Cabinda (MIC), uma nova organização que reivindica a autodeterminação e a independência do Enclave angolano rico em petroleo.
Os ativistas foram detidos nas suas residências, sem qualquer mandato judicial, dias antes da realização da uma marcha que visava relembrar o "Tratado de Simulambuco", assinado a 1 de fevereiro de 1885, entre a colónia portuguesa e as autoridades do reino de Cabinda de então. Naquela altura , o território de Cabinda não fazia parte do resto do território da Angola continental.
Marcha com objetivos pacíficosOs detidos estão espalhados por diversas prisões da província de Cabinda, incluindo o seu líder Maurício Gimbi. Na sua maioria são jovens entre os 18 e 28 anos.
José Caposso, um dos poucos integrantes do MIC que escapou à detenção, explica que a marcha tinha objetivos pacíficos.
"Avisamos ao governo angolano que a manifestação seria pacífica e não iríamos destruir nada do que é do Estado. Mas de lá para cá, começaram a surgir detenções arbitrárias, razão pela qual a marcha não foi realizada. Na semana passada, quando em Luanda houve manifestação dos médicos e contra o aumento do preço dos passaportes, não houve detenção. Mas em Cabinda, se você tentar manifestar o seu direito, é totalmente censurado".
"João Lourenço deveria vir a Cabinda"
Josefina Buanga tem o pai, o marido e três irmãos detidos. À DW, Buanga denunciou os constantes atropelos aos direitos humanos em Cabinda por parte das autoridades angolanas e deixou um apelo ao Presidente João Lourenço e à comunidade internacional.
"Só queria pedir apoio à comunidade internacional, porque os angolanos foram sempre brutos e agressivos. Nunca nos deixaram à vontade aqui na nossa província. Tudo que nós fizemos aqui na província de Cabinda somos escravos dos angolanos. Tenho que esconder e não falar a verdade. Precisamos de João Lourenço vir aqui para dialogar connosco e senão dialogar essa guerra vai continuar porque ainda não temos paz aqui em Cabina. Essa luta não começou agora".
Processo é políticoO ativista e advogado Arão Bula Tempo, um dos integrantes da equipa que defende os ativistas detidos, considerou o processo de político e não de uma questão jurídica, a julgar pelos crimes de que são acusados de atentarem contra a segurança do Estado.
"Isto de facto torna-se uma questão política, porque os jovens reclamam a independência e autodeterminação, isto está claro que ultrapassa uma questão jurídica"
A DW contactou o porta-voz da Procuradoria-geral da República, Álvaro João, que prometeu falar sobre o assunto nos próximos dias.
FLEC-FAC também preocupada com situação
Entretanto, face à incontrolável vaga repressiva angolana em Cabinda, a direção política da FLEC (Frente de Libertação do Enclave de Cabinda), um outro movimento que advoga a independência do enclave angolano, solicitou recentemente uma intervenção de Coly Seck, presidente do Conselho dos Direitos Humanos e dos Estados Membros do Conselho dos Direitos Humanos.
Por outro lado, a FLEC-FAC apelou também à Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que "condene claramente e aja urgentemente" para que as autoridades angolanas cessem com a "política e ações ultra repressivas" contra a população cabindesa.