"Cabinda é uma espinha na garganta do regime" diz analista
No dia 10 de janeiro de 2010, a sigla FLEC correu mundo. Logo no arranque do Campeonato Africano das Nações, que tinha Angola como anfitriã, um atentado em Cabinda contra a seleção de futebol do Togo faz dois mortos e alguns feridos.
O ataque é reivindicado pela FLEC-PM (Posição Militar) de Rodrigues Mingas, ala militarista dissidente criada em 2003. E volta a chamar a atenção para o movimento pela independência do enclave. Depois deste incidente que manchou o CAN 2010, raramente se voltou a falar na FLEC nos meios de comunicação internacionais.
Fazer reféns não é solução, considera analista
Para atingir os seus objetivos políticos, a FLEC já tinha recorrido à técnica de tomada de reféns. Mas atualmente, do ponto de vista militar, "a resistência está quase numa fase residual" e não tem força militar para fazer raptos e ataques, lembra o analista político Orlando Castro.
"É evidente que raptar cidadãos estrangeiros é uma forma de colocar a comunicação social em cima dos acontecimentos, mas não leva a lado nenhum. Os fins não podem justificar o uso de todo o tipo de meios", considera o analista.
Cinquenta anos depois da fundação do movimento separatista, Cabinda é um conflito esquecido internacionalmente, "porque isso convém às potências mundiais", defende o jornalista. O que não impede que muitos organismos e até governos continuem atentos ao que se passa naquele território e estejam até "a jogar em dois tabuleiros", alega.
O papel de Portugal no impasse
Do ponto de vista da FLEC, Portugal continua a ter responsabilidades no que se passa no enclave estabelecido como protectorado português em 1885, com a assinatura do Tratado de Simulambuco. Mas, segundo o analista, o principal problema é que o país "aceita passivamente tudo quanto o regime angolano quer":
"Sobretudo do ponto de vista económico, Portugal está quase a funcionar como um protectorado de Angola", afirma Orlando Castro, acrescentando que "Portugal, a não ser que haja outro 25 de abril, nunca vai interceder junto de Angola para resolver o problema de Cabinda."
Recentemente, a FLEC propôs a Luanda negociações para acabar com o conflito, que dura há quase 40 anos. E anunciou que chegou a hora de fazer concessões aos "inimigos de ontem".
Mas Angola ainda não respondeu às propostas da FLEC. E, segundo o autor do livro "Cabinda, Ontem Protectorado, Hoje Colónia, Amanhã Nação", nem tem interesse em fazê-lo, uma vez que "um problema do regime angolano é que convive muito mal com todas as pessoas ou com todas as entidades que têm ideias diferentes das oficiais". "Cabinda é uma espinha na garganta do regime", afirma o analista.
A paz como caminho para a resolução do problema
Para Raul Danda, natural de Cabinda e líder da bancada parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), na oposição, a solução para o problema de Cabinda é a via pacífica. "Era preciso que, de facto, o regime de Angola parasse para dizer que chega de matar pessoas, chega de prender pessoas, chegou a altura de dialogarmos como seres humanos, como seres civilizados", considera Danda.
Segundo o líder da bancada da UNITA, o movimento separatista surgiu para "fazer uma reivindicação que considera legítima", com base em tratados e nas "aspirações de um povo". Para ele, a FLEC continua a ter a mesma importância que devia ter.
"Quer o Governo instalado na República de Angola quer a comunidade internacional deviam um dia parar, debruçar-se sobre o assunto e chamar, não diria só a FLEC enquanto movimento de libertação, mas sobretudo aquele que é o sentimento dos cabindas relativamente a uma autodeterminação".