Brasil valoriza cultura africana
19 de maio de 2011O projeto, que começou em 2006 com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Brasil, é coordenado pelo Núcleo de Estudos sobre identidades e relações interéticas da universidade Federal de Santa Catarina. A intenção é ganhar um vasto público para as manifestações culturais e sociais africanas e afro-brasileiras.
Destaque para o tema premente da SIDA
A presente edição deu lugar de destaque ao cinema moçambicano, que chegou ao Brasil com um tema muito atual: a SIDA. O filme “Caminhos do Ser”, de Isabel Noronha, mostra a história de quatro irmãos órfãos, que são hostilizados pela comunidade. Este filme ganhou o “Kuxa Kanema” o mais conceituado para as artes de Moçambique.
Esmael Oliveira, que defendeu uma tese de doutoramente em antropologia num trabalho sobre o povo de Moçambique, coordena a mostra de cinema. Oliveira diz que a arte pode sim ajudar a divulgar o problema e fomentar a prevenção da Sida. “Na verdade, como em Moçambique a questão do HIV é uma questão generalizada, tem sido uma preocupação não só de organizações, do Ministério da Saúde, mas também de cineastas, artistas plásticos, fotógrafos”.
Mudar a visão africana do Brasil
Igualmente antropóloga, Ilka Boaventura, coordena todo o projeto “Olhares de África”. Importa-lhe também mudar a conceção reinante no Brasil, onde o retrato de África se costuma limitar ao período colonial, e onde este continente é visto, sobretudo, como fornecedor de escravos. Esta visão da África tribal e atrasada nada tem a ver com a realidade, diz Boaventura: “Em Moçambique os artistas discutem questões bastante voltadas para o futuro das nações recém-criadas, entre elas a questão da SIDA”
Há um ano, no Brasil, o moçambicano Afonso Macheca, veio de Maputo para estudar engenharia química na Universidade Federal de Santa Catarina em Florianópolis. Ele acredita que o projeto, incluindo a mostra de cinema, serve para mostrar uma África que os brasileiros não conhecem e que é importante o intercâmbio cultural para combater os preconceitos: “Entre os colegas brasileiros na universidade constatamos um total desconhecimento do continente africano, e em especial dos países lusófonos”. E por isso, conclui: “Para nós é muito bom haver uma instituição que promova o conhecimento de África“
Autor: Almeri Cezino (Florianópolis)/Cristina Krippahl
Revisão: António Rocha