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Brasil tem outros interesses em África para além da cooperação

Fernandes, Carla Marisa21 de fevereiro de 2013

Nesta sexta-feria (22.02.) começa a terceira cimeira África-América do Sul na Guiné Equatorial. Entre os sul-americanos o Brasil é visto como o mais próximo de África, mas esconde muitos interesses.

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Há quase quatro anos a euforia foi grande durante a segunda Cimeira África-América do Sul na Venezuela: o antigo presidente da Líbia, Muammar Kadhafi , o chefe de Estado brasileiro da altura, Lula da Silva e o venezuelano Hugo Chávez apresentaram-se juntos impressionando os media.

Deveria ter marcado uma grande oportunidade de cooperação entre África e a América do Sul, a imagem de uma cooperação dos países do Sul.

Mas pouco se fez desde então. Na terceira cimeira 54 chefes de Estado e de governo africanos e 12 homólogos sul-americanos participam na terceira cimeira na Guiné Equatorial.

Pouco se sente da atmosfera de estreia que se viveu nas primeiras duas cimeiras de 2006 e 2009 começando pelas figuras principais: Kadhafi está morto, Hugo Chavez está gravemente doente e Lula da Silva já não está na presidência do seu país.

Poucos avanços na cooperação

A cimeira marcada para maio do ano passado foi adiada por iniciativa do Brasil. Em termos de conteúdos a cimeira não avançou nos últimos 3 anos e ainda se está longe da implementação dos projetos planeados, segundo informações de meios diplomáticos.

Alex Vines da organização não governamental Chatham House, sediada em Londres, recorda os feitos do Brasil: "A cimeira é sobretudo política e gira à volta da ideia da cooperação Sul-Sul. Para isso existem realmente bons exemplos: o Brasil construiu estruturas agrícolas em África e colocou o seu conhecimento à disposição. Por exemplo, no combate de doenças trópicais."

Entretanto, no caso de outros países sul-americanos ele a situação já diferente: "Não se vê muito. Para a Venezuela a questão é mais demonstrar a todos a ideologia da cooperação Sul-Sul."

A Venezuela é um país socialista e procura fortemente parceiros contra os Estados Unidos da América. Nos últimos dez anos, o Brasil, pelo contrário, leva a sua ofensiva africana avante.

Por detrás da chamada cooperação Sul-Sul está a ideia de que países emergentes, que estão também em desenvolvimento, podem ajudar na construção das economias de países mais pobres em termos de investimentos e comercio.

As vantagens do Brasil

O Brasil sente uma maior responsabilidade por causa da sua ligação histórica a África. Na sequência da escravatura o número de cidadãos afro-descendentes no maior país da América do Sul é elevado.

E o país põe à disposição dos africanos as suas próprias estratégias no combate à Sida e à pobreza.

O perito em assuntos do Brasil Markus Fraundorfer do Instituto GIGA em Hamburgo, na Alemanha, também cita um ponto positivo do Brasil: "Em particular no combate à Sida há uma troca científica de conhecimentos já que o programa nacional brasileiro contra a Sida tem uma boa reputação internacionalmente. E o Brasil tenta passar este conhecimento aos estados africanos, de forma a estes criarem sistemas semelhantes."

Há dois anos, o Brasil construiu um laboratório em Moçambique que cria antiretrovirais genéricos para combater a Sida, tanto para Moçambique como para outros países da áfrica subsaariana.

Mas a cooperação Sul-Sul do Brasil com África também é polémica. Segundo organizações dos direitos humanos e ambientais, o país tem os seus interesses económicos em vista.

O que quer realmente o Brasil em África?

A ofensiva brasileira em África tem também uma dimensão política. Assim como a Alemanha, o Brasil está a candidatar-se a um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e os 54 Estados africanos representam uma grande percentagem das vozes na Assembleia da ONU.

Durante a cimeira vai tentar-se sobretudo fazer com que as duas partes entrem em consenso em relação a posições e estratégias a adotar para cooperações futuras.

Alex Vines da Chatham House alerta para expectativas muito elevadas: "Não nos podemos esquecer de que África é um continente com 54 países, portanto, muitos mais do que a América do Sul, e são todos totalmente diferentes. Podem haver aspetos comuns mas vai ser difícil. Acho que este é um projeto a longo prazo."

Autora: Katrin Matthaei / Carla Fernandes
Edição: Nádia Issufo / Helena Ferro de Gouveia