Brasil tem outros interesses em África para além da cooperação
Há quase quatro anos a euforia foi grande durante a segunda Cimeira África-América do Sul na Venezuela: o antigo presidente da Líbia, Muammar Kadhafi , o chefe de Estado brasileiro da altura, Lula da Silva e o venezuelano Hugo Chávez apresentaram-se juntos impressionando os media.
Deveria ter marcado uma grande oportunidade de cooperação entre África e a América do Sul, a imagem de uma cooperação dos países do Sul.
Mas pouco se fez desde então. Na terceira cimeira 54 chefes de Estado e de governo africanos e 12 homólogos sul-americanos participam na terceira cimeira na Guiné Equatorial.
Pouco se sente da atmosfera de estreia que se viveu nas primeiras duas cimeiras de 2006 e 2009 começando pelas figuras principais: Kadhafi está morto, Hugo Chavez está gravemente doente e Lula da Silva já não está na presidência do seu país.
Poucos avanços na cooperação
A cimeira marcada para maio do ano passado foi adiada por iniciativa do Brasil. Em termos de conteúdos a cimeira não avançou nos últimos 3 anos e ainda se está longe da implementação dos projetos planeados, segundo informações de meios diplomáticos.
Alex Vines da organização não governamental Chatham House, sediada em Londres, recorda os feitos do Brasil: "A cimeira é sobretudo política e gira à volta da ideia da cooperação Sul-Sul. Para isso existem realmente bons exemplos: o Brasil construiu estruturas agrícolas em África e colocou o seu conhecimento à disposição. Por exemplo, no combate de doenças trópicais."
Entretanto, no caso de outros países sul-americanos ele a situação já diferente: "Não se vê muito. Para a Venezuela a questão é mais demonstrar a todos a ideologia da cooperação Sul-Sul."
A Venezuela é um país socialista e procura fortemente parceiros contra os Estados Unidos da América. Nos últimos dez anos, o Brasil, pelo contrário, leva a sua ofensiva africana avante.
Por detrás da chamada cooperação Sul-Sul está a ideia de que países emergentes, que estão também em desenvolvimento, podem ajudar na construção das economias de países mais pobres em termos de investimentos e comercio.
As vantagens do Brasil
O Brasil sente uma maior responsabilidade por causa da sua ligação histórica a África. Na sequência da escravatura o número de cidadãos afro-descendentes no maior país da América do Sul é elevado.
E o país põe à disposição dos africanos as suas próprias estratégias no combate à Sida e à pobreza.
O perito em assuntos do Brasil Markus Fraundorfer do Instituto GIGA em Hamburgo, na Alemanha, também cita um ponto positivo do Brasil: "Em particular no combate à Sida há uma troca científica de conhecimentos já que o programa nacional brasileiro contra a Sida tem uma boa reputação internacionalmente. E o Brasil tenta passar este conhecimento aos estados africanos, de forma a estes criarem sistemas semelhantes."
Há dois anos, o Brasil construiu um laboratório em Moçambique que cria antiretrovirais genéricos para combater a Sida, tanto para Moçambique como para outros países da áfrica subsaariana.
Mas a cooperação Sul-Sul do Brasil com África também é polémica. Segundo organizações dos direitos humanos e ambientais, o país tem os seus interesses económicos em vista.
O que quer realmente o Brasil em África?
A ofensiva brasileira em África tem também uma dimensão política. Assim como a Alemanha, o Brasil está a candidatar-se a um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e os 54 Estados africanos representam uma grande percentagem das vozes na Assembleia da ONU.
Durante a cimeira vai tentar-se sobretudo fazer com que as duas partes entrem em consenso em relação a posições e estratégias a adotar para cooperações futuras.
Alex Vines da Chatham House alerta para expectativas muito elevadas: "Não nos podemos esquecer de que África é um continente com 54 países, portanto, muitos mais do que a América do Sul, e são todos totalmente diferentes. Podem haver aspetos comuns mas vai ser difícil. Acho que este é um projeto a longo prazo."
Autora: Katrin Matthaei / Carla Fernandes
Edição: Nádia Issufo / Helena Ferro de Gouveia