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Brasil leva experiência de combate ao SIDA a Moçambique

Carvalho, Wellington18 de fevereiro de 2013

Técnicos brasileiros da área de tratamento do Sida estão otimistas com a primeira etapa do projeto de capacitação realizado na província de Gaza, em Moçambique. No terreno constataram dificuldades, mas também avanços.

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O último relatório anual das Nações Unidas sobre a Sida apontou o Brasil como referência no combate à doença.

Parte desta experiência começou a ser transferida para Moçambique por meio de um projeto de capacitação organizado pela Agência Japonesa de Cooperação Internacional, do Núcleo Provincial de Combate à Sida, na província de Gaza, no Sul de Moçambique, e do Centro de Referência e Treinamento DST SIDA de São Paulo.

O gerente de recursos humanos do projeto, João Bosco de Souza, lembra o valor da cooperação entre os dois países: "O Brasil tem esta vontade (de colaborar), tem vários projetos lá, seja de combate ao SIDA, ou de construção civil. Então é um importante movimento nosso de poder colaborar com eles."

O treinamento, iniciado em janeiro passado, aborda aspetos como planeamento, monitoramento e avaliação e focará principalmente a transmissão vertical, ou seja, a infeção pelo HIV, o Vírus de Imunodeficiência Humana, durante a gestação, parto ou amamentação.

Primeiro conhecer o terreno

Na primeira etapa, três técnicos brasileiros passaram duas semanas na província de Gaza para conhecer a realidade da região.

Fez parte do grupo, a gerente de planeamento da CRT, Coordenação Estadual de Doenças de Transmissão Sexual (DTS) e SIDA de São Paulo, Vilma Cervantes.

A gerente constatou que Moçambique tem um grande défice de profissionais de saúde, tem um número reduzido de médicos, e "então eles tiveram de criar protocolos e formar profissionais de nível médio, que dão uma resposta satisfatória dentro do que é possível lá", explica.

Apesar das lacunas nesse aspeto, pontos positivos foram também constatados no terreno por Vilma Cervantes: "As pesoas têm acesso universal ao tratamento, isso é muito bom. Há parceria com a sociedade civil, eles tem algumas estruturas muito interessantes para a resposta. Mas a situação, como um todo no país, ainda é muito nova, as pessoas são muito novas."

Com trinta por cento da população infetada pelo vírus HIV-SIDA, Gaza, no sul de Moçambique, é a província com maior incidência.

Técnicos moçambicanos no Brasil

Para conter a doença, técnicos da região irão ao Brasil, numa segunda fase do projeto de capacitação, como explica Vilma Cervantes, do CRT SIDA de São Paulo: "Eles chegam no dia 11 de março, ficam duas semanas aqui, na primeira semana eles fazem um curso teórico e visitam o nosso trabalho, o CRT, e na segunda semana fazemos visitas monitoradas a outras realidades, a trabalhos de ONGs, a trabalho de municípios, levá-los para conhecer uma realidade um pouco menos estruturada do ponto de vista da economia local. Em torno de 12 a treze pessoas devem vir."

A formulação de campanhas de prevenção também será uma das prioridades do trabalho que se estenderá pelos próximos três anos.

Mas, se a primeira impressão é a que fica, o trabalho tem tudo para dar certo, de acordo com a psicóloga Vilma Cervantes. Ela conta que visitaram uma ONG, que faz um trabalho lindíssimo, que se chama DPP, e tiveram uma surpresa agradável: "Quando chegamos numa reunião de agentes comunitários, eles utilizavam os nossos cartazes aqui de São Paulo. E ficamos super emocionados de ver os cartazes que produzimos sobre a transmissão vertical, serem utilizados lá para a questão educativa deles. Foi inesperado e gratificante."

Avanços e Recuos

De acordo com o Relatório Global da Agência das Nações Unidas para o SIDA, ONUSIDA, publicado em finais de 2012,  em Moçambique a taxa de incidência
da doença está a diminuir.

Estima-se que existam no país 1,4 milhões de infetados. De acordo com dados da ONUSIDA Moçambique é um dos 14 países que conseguiram reduzir a taxa de incidência das infeções nos adultos entre 26 e 49 por cento. Mas as mortes associadas ao Sida estimam-se em 74 mil e o número de órfãos em 670 mil.
 
Outro avanço resgistado pelo país é a evolução relativamente aos comportamentos
sexuais de risco, mas por outro lado há fracos progressos nos objetivos do programa de circuncisão voluntária. Em 2011, menos de 5 por cento dos homens tinham aderido ao programa.
 

Autor: Wellington Carvalho (São Paulo)
Edição: Nádia Issufo / António Rocha