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Boom do petróleo sem reflexos no desenvolvimento do Chade

Dirke Köpp / Glória Sousa10 de outubro de 2013

O início da exploração de petróleo, há dez anos, acelerou a economia. Mas o Chade continua longe de erradicar a pobreza. As receitas do ouro negro têm reforçado sobretudo o exército e o poder do Presidente Idriss Déby.

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Foto: Christof Krackhardt

Sendo o quinto maior país em África, o Chade é o 10º em termos de reservas de petróleo. A produção começou em 2003, depois de finalizada a construção de um oleoduto do Chade para o Oceano Atlântico, através dos Camarões, país vizinho.

Este ano de 2013, a produção deverá situar-se nos 110 mil barris de petróleo por dia, de acordo com a Administração de Informação sobre Energia norte-americana. Mas o governo chadiano estima que, quando começar a exploração de petróleo nas proximidades do Lago Chade, no próximo ano, a produção chegue aos 300 mil barris/dia em 2015.

As receitas do petróleo têm um importante peso na economia do país: cerca de 1,2 mil milhões de dólares/ano (mais de 880 mil milhões de euros), ou seja proximadamente 80% das receitas do Estado.
No entanto, 62% da população vive com menos de um euro por dia, um terço dos adultos não sabe ler nem escrever e a esperança média de vida não chega aos 50 anos. E no Índice de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU), o Chade ocupa a posição 184 de um total de 187 países. Atrás do Chade estão apenas Moçambique, a República Democrática do Congo e o Níger.

Boom do petróleo sem reflexos no desenvolvimento do Chade

Além disso, os direitos humanos são frequentemente violados. “Muitos opositores no Chade são detidos e intimidados. Há muitas detenções arbitrárias, corrupção e abuso de poder por parte da polícia e militares. No Chade, se alguém vir os seus direitos desrespeitados, é quase impossível que volte a recuperá-los”, afirma Martin Petry, consultor independente para o desenvolvimento que conhece o país da África Central há vários anos.

Receitas utilizadas no setor militar

Os lucros do petróleo ajudam o Preidente Déby, no poder desde 1990, a consolidar a sua posição interna: oferece posições de prestígio a adversários políticos, silenciado assim vozes desconfortáveis. E apenas uma pequena parte das receitas é canalizada para a luta contra a pobreza ou na construção de infraestruturas.

Por outro lado, as receitas do petróleo têm-se refletido no sector militar. Segundo Helga Dickow, especialista em assuntos do Chade na Universidade alemã de Freiburgo, “o Chade tem o exército melhor equipado da África Subsariana”.

Tschadische Soldaten bei Rückkehr aus Mali 13.05.2013 mit Präsident Idriss Deby Itno
Idriss Déby, Presidente do Chade, chegou ao poder em 1990 num golpe de Estado que depôs Hissène HabréFoto: STR/AFP/Getty Images

“O Governo tem acesso às receitas do petróleo e pode utilizá-las para a sua campanha eleitoral. O clientelismo e a cooptação de adversários políticos acontecem agora a uma escala muito maior do que antes”, complementa Helga Dickow.

Um exército forte contribui para uma imagem internacional também forte do Presidente Idriss Déby. Quando a França desencadeou a intervenção militar no Mali, no início deste ano, o Chade disponibilizou 2400 soldados.

Chade reforça política externa

Com a participação na luta contra rebeldes islâmicos e grupos terroristas, o Chade conseguiu destaque na cena internacional e a nível interno. "Não existe uma pressão massiva contra o Presidente chadiano, porque as pessoas precisam dele na luta contra o terrorismo”, observa o consultor para o desenvolvimento Martin Petry.

10 Jahre Ölförderung im Tschad
Exploração de petróleo na Bacia de Doba, sul do paísFoto: Christof Krackhardt

Na opinião do chadiano Remadji Hoinathy, que trabalha no Instituto Max-Planck de Antropologia Social, na Alemanha, “a diplomacia militar do Chade permite ao Estado posicionar-se de forma diferente dos seus parceiros.

Quando por exemplo, a França precisa do Chade, numa área em particular, os dois países podem dialogar em pé de igualdade”.

Para a França, antiga potência colonial, o Chade é um parceiro económica e estrategicamente importante. O exército francês têm duas bases militares no país africano, na capital, N’djaména, e a ocidente, em Abéché.

A estratégia da política externa chadiana apresenta também resultados no continente. A União Africana (UA) vai apoiar a candidatura do Chade para o lugar de membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU em 2014/2015.

Bildergalerie 10 Jahre Ölförderung im Tschad
Apesar do crescimento da economia chadiana, a maioria da população vive na pobrezaFoto: Christof Krackhardt