Boa gestão de Luanda não depende das pessoas, dizem analistas
17 de setembro de 2014Na segunda-feira (15.09) o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, exonerou o governador provincial de Luanda, Bento Francisco Bento, e mais dois dos três vices-governadores da capital do país.
O comunicado da Casa Civil do Presidente da República não faz qualquer referência sobre as razões da exoneração de quase toda equipa da governação da província de Luanda.
Mas o Presidente da República, na qualidade de presidente do MPLA, o partido no poder, já havia emitido publicamente, à margem de uma reunião do Comité Central do seu partido, claros indícios de como estava agastado com a governação da capital do país.
Aliás, um dado não menos importante, tem a ver com o facto da exoneração do governador de Luanda coincidir com a criação da Comissão de Restruração do Governo da província de Luanda, que integra figuras proximas e de confiança do Presidente José Eduardo dos Santos.
A nova Comissão terá como missão a desconcentração administrativa e a adoção de um modelo de administração local diferenciado das restantes províncias do país.
Entretanto, apesar da medida ora tomada pelo Presidente da República visar uma melhor gestão da provÍncia de Luanda, anaslistas ouvidos pela DW África duvidam que essas mudanças venham a ter efeitos positivos.
Onde está o problema?
O jornalista Graça Campos, fundador e antigo proprietário do Semanário Angolense, entende que o problema de Luanda é apenas um: "Penso que o problema da governação provincial não está nas pessoas, mas sim no modelo de governação. O Presidente da República tem estado a pautar por um modelo ideal de governação de Luanda".
Relativamente a um modelo ideal de governação para Luanda, Graça Campos, acredita que buscar exemplos governativos de outros países pode ser uma solução para Luanda: "Hoje no mundo já não há nada que inventar, é fazer estudos comparados, ir a Moçambique, África do Sul, Portugal, Rio de Janeiro para ver como se governam cidades grandes como Luanda."
Mudanças previsíveis?
E o sociólogo Paulo de Carvalho, professor titular da Universidade Agostinho Neto, é de opiniao que em termos práticos não se pode esperar quase nada das mudanças ora efetuadas: "Acho que se trata de uma movimentação que fará parte da rotina da gestão governativa, não me parece que tenham sido detetados atos de grande incompetência ou de grande incompatibilidade."
E Paulo de Carvalho minimiza as mudanças: "Acredito que se trate apenas de uma daquelas mudanças que ocorrem de tempos em tempos."
O também antigo reitor da universidade publica Katiavala Bwila, Paulo de Carvalho, sublinhou, por outro lado, as constantes interferências por parte do Governo central como o ''calcanhar de Aquiles'' na gestão da governação da província de Luanda.
Paulo de Cravalho considera ainda que o problema não está nas pessoas: "Pode ser nomeada qualquer pessoa para governar Luanda, mas qualquer que seja a pessoa nomeada vai ter grande dificuldades, porque governar Luanda não é o mesmo que governar qualquer outra província do país, porque o Governo está em Luanda e há grande interferência governativa central."
Maior aposta do Governo central em investimentos nas províncias é para Paulo de Carvalho umas das soluções adequadas para os problemas da capital do país.