Blogueiro preso no Egito corre risco de morrer
11 de outubro de 2011Começa nesta quarta-feira (12/10) o registro eleitoral dos candidatos para as eleições legislativas no Egito. Será a primeira votação desde a queda do antigo presidente egípcio Hosni Mubarak, em fevereiro deste ano.
Mas nem todos os egípcios estão satisfeitos com a era pós-Mubarak. Há quase dois meses, o jovem blogueiro Maikel Nabil Sanad faz greve de fome.
Após a queda de Mubarak, Sanad foi condenado a uma pena de três anos de prisão pelo governo militar que agora detém as rédeas no Egito.
Atrás das grades
Desde o final de março, cerca de um mês após a queda do antigo presidente egípcio Hosni Mubarak, o blogueiro Maikel Nabil Sanad está atrás das grades da prisão Al Marg, na capital egípcia Cairo.
Há 50 dias, Sanad começou uma greve de fome para contestar a prisão ordenada pelo governo egípcio, agora chefiado por militares. Ele perdeu 15 quilos e está pesando 45.
Desde o dia cinco de outubro, o jovem também não está mais bebendo nada – um protesto contra o fato de a sua apelação contra a prisão ter sido adiada em uma semana, na semana passada.
O pai do jovem de 26 anos acredita que a vida do filho está risco e já disse que a qualquer momento espera uma ligação de "alguém que irá me dizer que Sanad está morto e que eu preciso ir buscar o corpo dele".
Segundo o pai, os rins do jovem estariam deixando de funcionar e outros órgãos já foram afetados pela greve de fome. O jovem não consegue levantar mais e quase não fala.
Um texto num blog
O jovem em greve de fome está preso por causa de um texto que ele publicou no próprio blog e que levou um tribunal militar a condená-lo a até 3 anos de detenção.
No texto do blog, ele acusa os militares de não terem estado ao lado do povo durante os 18 dias de revolta popular que acabaram na renúncia de Hosni Mubarak. Com isso, o blogueiro atacou um fundamento da era pós-Mubarak – porque o conselho militar que agora governa o país vê que o exército esteve ao lado da população o tempo todo.
Portanto, o blogueiro teria ofendido o exército e teria distribuído informações falsas. No mesmo texto do blog, constava ainda que o exército torturou ativistas egípcias com testes de virgindade. Um fato que os militares admitiram apenas semanas depois do veredicto de Sanad, que se sente injustiçado.
Desde fevereiro, 12 mil outros civis além de Sanad compareceram diante de tribunais militares no Egito, diz a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch. Seriam mais julgamentos que os realizados durante os 30 anos do regime de Hosni Mubarak. Apenas cerca de 800 dos acusados foram absolvidos – em sua maioria, policiais ou pessoas leais ao governo militar atual.
A maior parte dos críticos, porém, não se deixa intimidar. Como Ali Rigel que defende que agora não é hora de ficar com medo: "Confrontamos a onda de violência de Mubarak, de seu regime, da polícia. Deveríamos completar a luta até que atinjamos um estado democrático".
Os blogueiros no Egito continuam com as atividades, mesmo com o Conselho Militar. Maikel Nabil Sanad continua com a greve de fome. Mas, ao contrário de muitos bloggers que foram libertados pelo governo militar, Sanad tem apenas um pequeno círculo de apoiantes. Ele ficou mal visto na sociedade egípcia por, entre outros fatores, ser ateu e pró-israelense, num país onde a religião determina a vida da maioria da população.
Autora: Viktoria Kleber / Renate Krieger
Edição: Bettina Riffel / António Rocha