Dia do trabalhador guineense é marcado por denúncias
3 de agosto de 2022A União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG), a maior central sindical da Guiné-Bissau, denunciou esta quarta-feira (03.08), em Bissau, várias situações que vão contra o povo e, em particular, os trabalhadores no país. As denúncias marcaram o dia do trabalhador guineense na capital, Bissau.
Conhecida também como o dia dos Mártires de Pindjiguiti, a data foi assinalada com uma marcha até ao porto onde, a 3 de agosto de 1959, dezenas de trabalhadores portuários foram mortos pelo então regime colonial, por protestarem por melhores condições de trabalho.
Após a marcha, o secretário-geral da UNTG, Júlio Mendonça, discursou na sede da central sindical.
Em declarações à DW África, e sem avançar nomes, o sindicalista denunciou a compra de casas na Europa por parte dos governantes guineenses, dizendo que "todos os governantes, os ministros na Guiné-Bissau, fizeram compra de imóveis em Portugal, e outros em Dakar, no Senegal".
"Isto está a olhos nus. Você tem um ministro ou secretário de Estado que não passa um ano em funções, já tem mais de seis imóveis construídos no país e tem apartamentos em Portugal, isso não é segredo para ninguém", afirmou Júlio Mendonça.
Pouco mudou em 60 anos
Mais de sessenta anos depois do massacre de Pindjiguiti, e numa altura em que o país registou várias greves só este ano, o secretário-geral da UNTG considera que os trabalhadores vivem em piores condições, se comparadas com a realidade que antecedeu o 3 de agosto de 1959.
"Na altura os trabalhadores reivindicavam o aumento de salário, e atualmente nós temos o problema de pagamento do salário", disse.
A UNTG está impedida de realizar o seu congresso, devido a um processo judicial intentado por um dos candidatos à liderança da organização sindical. Num passado recente, dirigentes da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné foram detidos e manifestações dos trabalhadores foram reprimidas.
UNTG fala em perseguição
Para Júlio Mendonça, a UNTG tem sido alvo de perseguições. "Todos políticos e governantes da Guiné-Bissau não gostam da UNTG, porque sentem que a organização é uma força que incomoda. A nossa preocupação é consciencializar o povo para assumir o seu destino e não confiar nesses políticos porque não serão eles a criar o bem-estar do povo", enfatizou o líder sindical.
Num ato paralelo com outros sindicatos, o ministro das Obras Públicas, Fidelis Forbs, em nome do Executivo, respondeu à preocupação dos trabalhadores da Administração dos Portos da Guiné-Bissau (APGB).
Para o ministro das Obras Públicas, a data não é apropriada para debater sobre os problemas sociais e salariais dos empregados das plataformas marítima e portuária. "A data serve apenas para reflexão", concluiu.