Bissau: Chefe das Forças Armadas diz que prioridade é a paz
30 de outubro de 2024O chefe das Forças Armadas guineenses, Biaguê Na N'Tan, 74 anos, anunciou, numa entrevista à Lusa, o desejo de se reformar, volvidos 10 anos naquelas funções.
"Já o disse ao Presidente [Umaro Sissoco Embaló], preciso ir descansar", destacou o general, numa extensa conversa com a agência de notícias Lusa, na qual disse que, ao contrário do que se especula no país, não está à espera de convulsões políticasque possam degenerar em violência.
"Eu não estou à espera dessa situação. Onde vai sair essa situação que pode ultrapassar a polícia até chegar às Forças Armadas? Não sei", declarou Biaguê Na N'Tan.
O general afirmou, contudo, que as Forças Armadas estão prevenidas e sempre alerta sobre o seu papel, no âmbito da Constituição, que lhes dá como missão a defesa da integridade territorial.
"Essa é a prioridade das prioridades. Mas eu continuo aqui a garantir a estabilidade da Guiné-Bissau, apesar do diz-que-diz, mas eu acho que a paz tem de prevalecer. A minha prioridade é a paz e a tranquilidade", destacou.
O general, que está nas Forças Armadas desde 1963, aconselhou os políticos a estudarem melhor a Constituição - que jura não desrespeitar nunca - quando lhe pedem que seja mais enérgico com o Presidente da República.
"O Presidente da República é o Comandante Supremo das Forças Armadas. Em nenhum momento, o Chefe do Estado-Maior pode dizer ao Presidente da República que vou convocar uma reunião em que ele terá de participar. Afinal quem manda no outro?", questionou.
Biaguê Na N'Tan frisa que as Forças Armadas só poderão intervir em questões de segurança pública em situação de estado de sítio e sob ordens diretas do Comandante Supremo, neste caso do Presidente. Em situações de "normalidade", no entender do general, cabe ao Ministério do Interior garantir a segurança das pessoas, inclusive na vigilância a residências de líderes políticos.
Tráfico de droga
Sobre o alegado envolvimento de militares no tráfico de estupefacientes que associa a Guiné-Bissau a um narcoestado, o general disse que nunca viu a droga e que se algum militar que dirige estiver envolvido, "a lei existe".
"E depois hoje a Guiné-Bissau tem as coisas muito bem definidas. A Polícia Judiciária é responsável por isso, mesmo que seja eu general, se estiver envolvido nisso que denunciem que estou metido nisso", disse.
Biaguê Na N'Tan garantiu que, até hoje, não ouviu um nome concreto de qualquer militar que esteja envolvido nisso e que não está interessado nesse problema, apesar de ver o seu nome na Internet associado ao assunto.
"No dia em que ouvirem que Biaguê está metido na droga, que se diga que eu é que trouxe a droga, podem questionar nesse dia se estou bem da cabeça", enfatizou.
Reforma das Forças Armadas
Na mesma ocasião, o general explicou que o processo de reorganização das Forças Armadas está no bom caminho, que a formação é uma prioridade e que a instituição respeita a Constituição da República.
Biaguê Na N'Tan queixou-se que falta financiamento e afirmou que os anunciados investimentos da comunidade internacional destinados a fazer a reforma, não chegaram ao destino.
Biaguê recordou que participou, ainda no cargo de comandante da Guarda Fiscal nas Alfândegas, numa comissão da União Europeia que disse que vinha para fazer a reforma na Guiné-Bissau.
"Mas, desde 2014, ouviu algum problema, ouviu falar sobre a reforma? As pessoas comeram o dinheiro [da reforma das Forças Armadas]", afirmou.
O Chefe do Estado-Maior garantiu que se todo esse dinheiro, cujo montante não especificou, tivesse sido dado às Forças Armadas, estas não iam falhar.
"Que se deixe essa coisa da reforma das Forças Armadas", continuou, destacando que uma reestruturação não pode ser "só tirar as pessoas, dizer-lhe 'sai do quartel e vai para casa'".
Até porque, disse, atualmente são os próprios militares que pedem para sair, perante o atual estado das Forças Armadas, com um orçamento "insuficiente" para fazer tudo o que seria necessário.
O Chefe do Estado-maior não falou de números orçamentais, uma questão que disse ser da competência do Governo, mas deixou claro que seria necessário mais financiamento para recuperar e reparar quartéis e construir infraestruturas.