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Banco Mundial: Pobreza extrema ainda preocupa em África

Friederike Müller-Jung | rl
17 de outubro de 2018

O nível de pobreza diminuiu de uma forma geral na maioria dos países no mundo. É o que diz o mais recente relatório do Banco Mundial. Entretanto, em África, o número de pessoas em pobreza extrema ainda é alarmante.

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Até 2015, quatro em cada dez africanos viviam com menos de dois euros por diaFoto: Fotolia/Andreas Wolf

A taxa de pobreza no mundo chegou, em 2015, a um novo mínimo. É o que diz o último relatório do Banco Mundial, publicado esta quarta-feira (17.10), Dia da Erradicação da Pobreza. O documento ressalta, porém, que, ao contrário da tendência mundial, as nações africanas registaram um aumento do número de pessoas pobres.

Segundo o documento, em 1990, cerca de uma em cada três pessoas no mundo vivia em pobreza extrema. Em 2015, o número caiu para uma em cada dez. Ou seja, nos últimos 25 anos, mais de mil milhões de pessoas superaram a pobreza extrema.

No entanto, o cenário não é o mesmo no continente africano. Segundo Francisco Ferreira, investigador do Banco Mundial, as taxas de pobreza em África, no período de 2013 a 2015, caíram um pouco, mas ainda são muito altas.

"Enquanto no mundo, como um todo, a taxa de pobreza é de 10% em 2015, em África é de 41%, ou seja, quatro em cada 10 africanos ainda viviam, em 2015, na pobreza extrema, ou seja, com menos de 1,90 dólares (1,64 euros) por dia/por pessoa. Infelizmente, África é o único continente em que o número absoluto de pessoas na pobreza extrema cresceu", lamenta Ferreira, destacando que, "em 2015, cerca de 413 milhões de pessoas na África vivam na pobreza extrema. Isso é mais da metade do total para o mundo que é de 736 milhões".

Agravantes da pobreza

A violência, os conflitos e guerras civis, em alguns países, e a fragilidades das instituições são, segundo este especialista, algumas das razões para a lenta redução da pobreza em África. Francisco Ferreira cita países como o Sudão do Sul, República Centro-Africana, Nigéria e Somália como exemplos.

"Há vários outros países que lidam com problemas de fragilidade institucional e conflitos. Nestes países, a pobreza cai muito vagarosamente ou chega até a aumentar. Quando não há um estado de direito, lei, ordem, as pessoas não investem, o capital é destruído, vidas são perdidas", explica.  "Além do enorme custo humano, há um custo económico que se traduz em maior pobreza".

White Slums - South Africa
Bairro de lata em Joanesburgo, na África do Sul (2017)Foto: DW/V.da Rocha

Além disso, considera o investigador do Banco Mundial, África tem uma taxa de crescimento um pouco mais baixa do que outras regiões, e, além de ser um pouco mais baixa, é uma taxa de crescimento volátil e, às vezes, com menor impacto sobre a pobreza.

"Transmissão do crescimento"

"A transmissão do crescimento para a pobreza é mais fraca em África", afirma o investigador. "Às vezes, pela dependência da economia de certos países em algumas poucas indústrias extratoras de minerais, como petróleo ou cobre, então essas indústrias têm menor transmissão dos seus benefícios para as pessoas mais pobres que trabalham na agricultura familiar, agricultura de subsistência. Há um grande desafio no continente que é transformar o seu crescimento num crescimento pró-pobre".

Mas há países que já o fazem. O Ruanda ou o Burkina Faso, aponta o investigador do Banco Mundial, têm conseguido diminuir a taxa de pobreza. Também a Etiópia, apesar dos desafios políticos, expandiu a sua economia, fazendo frente a este problema.

Na Ásia, a China e o Vietname são grandes casos de sucesso. Neste último, por exemplo, os rendimentos dos agricultores aumentaram bastante nos últimos anos. O que também é possível em África, esclarece Francisco Ferreira, uma vez que a maioria das pessoas consideradas extremamente pobres vive em zonas rurais.

Pobreza extrema ainda preocupa em África, diz Banco Mundial

Fatores-chave

Ainda que haja particularidades em cada país, Francisco Ferreira entende que há alguns fatores-chave comuns e para os quais os Governos devem olhar com o objetivo de melhorar a vida da população, nomeadamente, a mais pobre.

"África é muito heterogénea e cada país precisa de ter as suas próprias políticas, mas em termos gerais, três coisas são fundamentais: uma melhoria na governação pública, na maneira como os Governos respondem à procura dos seus cidadãos e providenciam serviços para eliminar corrupção, conflitos, guerra civil, etc. E, uma vez feito isso, dois tipos de investimentos: em capital humano - as pessoas são mais produtivas se tiverem acesso à saúde, educação e os seus filhos vão ser mais produtivos e menos pobres e mais prósperos se tiverem acesso a esses serviços; e em infraestrutura - eletricidade, acesso a água, saneamento, transportes".

Francisco Ferreira não tem dúvidas que estes investimentos poderão melhorar a vida no continente africano. Caso contrário, admite, e se as coisas continuarem como nos últimos dez anos, em 2030, a taxa de pobreza extrema na África Subsaariana estará ainda nos 25%, enquanto que no resto do mundo cumprirá os objetivos traçados pelo Banco Mundial e estará abaixo dos 3%.

O relatório "Pobreza e Prosperidade Partilhada 2018: Juntar as Peças do Puzzle da Pobreza" publicado esta quarta-feira pelo Banco Mundial dá conta das estimativas relativas à pobreza no mundo no período de 2013 a 2015. A previsão preliminar do Banco Mundial é que a pobreza tenha baixado para 8,6% em 2018.

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