Ausência dos PALOP na Feira do Livro de Frankfurt
12 de outubro de 2017No pavilhão 5.1 da Feira do Livro de Frankfurt, que decorre de 11 a 15 de outubro, a placa informa que Angola tem lá um "stand". Mas na verdade não há "stand" nenhum, nem sombra. Mas ficamos a saber que o espaço foi pago, mas houve uma desistência no final.
Michael Kegler é tradutor de obras literárias do português para o alemão e marca presença na feira todos os anos. Ele conta: "Nós vemos aqui na placa que está escrito Angola, mas parece que esse "stand" foi adiado para o próximo ano, foram os rumores que ouvi."
Mas não foi pela ausência de um país africano de língua portuguesa na Feira que deixamos morrer o interesse pelo que se poduz nestes países. Estão no mesmo pavilhão outros países que igualmente falam o português: Brasil e Portugal.
Portugal e Brasil: que ligações com os PALOP?
Começamos pelo "stand" de Portugal onde encontramos Duarte Azinheira e uma colega a arrumarem livros na prateleira. Nenhum deles de autores dos PALOP, mas o diretor editorial da Imprensa Nacional Casa da Moeda, diz que tem no catálogo uma coleção que se chama escritores dos PALOP e que publica anualmente três a quatro títulos e não só.
"Temos um prémio em Moçambique, criado no ano passado, chamado Eugénio Lisboa. E brevemente, ainda este ano, anunciará o seu primeiro vencedor, com um júri de grande nível presidido pelo grande escritor moçambicano, chamado Ungulani Ba ka Khosa. E vamos criar um em São Tomé e Príncipe, que se vai chamar prémio IACM Almada Negreiros, que nasceu em São Tomé. E vamos criar também um prémio em Cabo Verde que ainda não tem nome", diz Azinheira.
Esta é a maior feira do livro do mundo, um evento mais focado para o mercado editorial, uma área ainda incipiente nos países africanos onde se fala português, como lembra Duarte Azinheira. Este queixa-se também de dificuldades na distribuição nos PALOP.
O diretor editorial da Impensa Nacional diz que "a presença editorial em Angola não é muito expressiva. Não encontramos muitas e boas livrarias em Luanda. Já em Moçambique é fácil encontrar livrarias, Maputo tem uma razoável rede de livrarias de média dimensão onde é possível encontrar livros de autores nacionais, mas também portugueses. Existem feiras do livro..."
Depois do "stand" de Portugal fomos ao do Brasil com representantes de dezenas de editoras. Com ligação aos PALOP não eram muitas. Mas como nem tudo corria mal apareceu-nos a frente justamente a representante da editora Pallas, que publica vários autores africanos e afro-brasileiros. A sua prateleira só tinha obras relacionadas com África.
Marina Warth garante que "os africanos de língua portuguesa são muito lidos [no Brasil], não somente Agualusa e Mia Couto e Pepetela, mas jovens autores estão a surgir."
Literatura dos PALOP é boa, mas...
A representante da Pallas diz também que "Ondjaki é um jovem autor com uma carreira bastante sólida" e por isso está convicta de uma coisa: "Estes autores acabam alavancando os outros que também acabam por ter mais condições de aparecer e mostrar que os países africanos produzem uma literatura tão boa e consistente quanto qualquer lugar do mundo."
Embora a literatura dos PALOP seja tão boa, como diz Marina Warth, ela não tem grande expressão numa feira desta envergadura. Facto que nos levou a concluir a reportagem por aqui.
Mas sempre há esperança de que para o ano as coisas melhorem, segundo Michael Kegler: "Podemos esperar para o próximo ano, que acho que vai haver [a presença de Angola]. Tomamos Angola aqui na placa como um anúncio. Se for verdade acho um bom sinal se finalmente um país participa por iniciativa própria e financiado por meios próprios. Seria muito bom, uma iniciativa que pode dar os seus frutos."