Aumenta o número de refugiados da Somália no Zimbabué
15 de dezembro de 2011As autoridades de Harare responsáveis pela imigração só a coberto do anonimato avançam dados concretos. Segundo esta informação colhida pela Deutsche Welle, o número de refugiados somalis no Zimbabué aumentou significativamente nos últimos dez meses. As mesmas fontes registam uma entrada diária de 50 somalis. E enquanto o repórter da Deutsche Welle falava com as autoridades, observou como um grupo de 23 somalis, na sua maioria entre os 20 e os 30 anos de idade, atravessou a fronteira.
À espera de concluir as formalidades na alfândega, os refugiados, entre eles algumas jovens mães, dão todos os sinais de exaustão. Assim que entram no Zimbabué, os somalis evitem as estradas principais, com medo que lhes roubem os seus magros pertences. O repórter da Deutsche Welle acompanhou o grupo que avançou por uma estrada secundária alagada por causa das chuvas da estação.
Fugir à fome e à guerra
Foi necessário, primeiro, convencer os jovens que o objetivo não era assaltá-los. A barreira linguística foi outro obstáculo difícil de transpor, sobretudo para descobrir o que os tinha levado a abandonar o seu país. Um dos jovens, que disse chamar-se Mahommed, respondeu imitando o som de uma metralhadora e referindo à fome que assola a Somália. Mahommed exprime-se com dificuldade em inglês, mas a mensagem não podia ser mais clara: os problemas na Somália são a fome e a guerra.
A questão que se coloca é, porquê optar por fugir para um pais que tem problemas consideráveis políticos e económicos? Entre os somalis segue um congolês que parece ser o líder do grupo. Diz que fugiu da guerra na República Democrática do Congo em 2000, tendo ido primeiro para o Ruanda, e, depois, para a Somália. Agora espera poder ficar no Zimbabué. Este homem critica com dureza os líderes políticos que o obrigaram a fugir da RDC, Ruanda e Somália: “Há demasiada guerra em demasiados países. Decidimos fugir quando mataram os nossos pais. Estamos no Zimbabué por causa da guerra”. O congolês fala decerto por todos quando diz que não quer que os seus filhos venham a viver o mesmo: “Há muitos problemas neste continente. Não sabemos quando poderemos ser felizes. Não sabemos o que vai acontecer aos nossos filhos”.
A esperança de um futuro
À pergunta sobre o que espera do Governo do Zimbabué, este refugiado responde que, sobretudo, quer ser tratado como um ser humano: “Os rebeldes não podem tirar-nos o futuro. Tiram-nos o país, mas não o futuro. Posso ter um futuro em qualquer parte do mundo”. Outro refugiado somali aproxima-se do repórter da Deutsche Welle para falar: “O maior desastre na Somália é a guerra civil, a guerra entre os rebeldes e a nação. Muitas pessoas tiveram que fugir para outros países”.
Mas ficou por responder à pergunta inicial: porque é que os refugiados de outros países escolhem o Zimbabué, de onde os próprios zimbabueanos tentam escapar? Tanto mais, que atendendo às suas próprias graves dificuldades económicas, o Zimbabué pouco ou nada pode fazer pelos imigrantes, como constatou recentemente o representante permanente das Nações Unidas no país, Marcellin Hepie. Mas o desespero dos somalis depois de décadas de sofrimento é, talvez, maior do que o receio daquilo que os pode esperar no país de acolhimento.
Autores: Columbus Mavhunga (Harare)/Carla Fernandes
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha