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Luanda: Associação acusa políticos de "atiçarem protestos"

Lusa
8 de setembro de 2023

Presidente da Associação dos Motoqueiros disse hoje que protesto de mototaxistas foi motivado por políticos para desestabilizar a governação. Participante vincou que maioria dos profissionais não é membro da associação.

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Avenida em Luanda
Avenida em LuandaFoto: DW/N. Sul d'Angola

"Nós acompanhamos e sabemos que havia forças ocultas a tratar com os motoqueiros para saírem à rua. Havia políticos envolvidos, forças que queriam criar desestabilização a nível da governação em Luanda", afirmou Bento Rafael em declarações à Lusa, sem, contudo, especificar. 

Segundo o presidente da Associação dos Motoqueiros Transportadores de Angola (Amotrang), a manifestação de mototaxistas, realizada ao princípio da noite de quinta-feira (07.09), no centro de Luanda, "não se justificava e foi atiçada por pessoas estranhas à atividade de mototáxi". 

"Muitos sabiam que nós estávamos reunidos para encontrar algum consenso e não se justificava aquela manifestação que se realizou ontem. Então, como é que as partes se sentam para encontrar a melhor maneira para se sair de um procedimento e há protestos nas ruas, com resultados tristes, como ferimentos. Foi desnecessária", frisou. 

Restrições à circulação

O Governo Provincial de Luanda (GPL) proibiu a circulação de motociclos em algumas das principais vias da capital com o objetivo de melhorar a circulação e diminuir os acidentes, que totalizaram 768 no primeiro semestre do ano. 

Os acidentes provocados por ciclomotores, motociclos, triciclos e quadriciclos resultaram em 134 mortes e 725 feridos, dos quais 368 graves, segundo dados apresentados na terça-feira (05.09) pelo chefe do departamento de Trânsito e Segurança Rodoviária da Província de Luanda, superintendente Simão Saulo. 

Milhares de cidadãos em Luanda recorrem ao mototáxi para chegarem no centro da cidade ou até a zonas mais longínquas da periferia. 

Negociações

A direção da Amotrang, que reuniu na quinta-feira com o GPL, promoveu hoje um encontro com os líderes das principais paragens de mototaxistas, no qual foi analisada a nova medida das autoridades angolanas. 

"Conseguimos ouvir os problemas que existem em várias paragens em Luanda e também conseguimos passar a mensagem que devem trabalhar com normalidade. Esta é a mensagem que passamos depois de termos saído também do encontro com o GPL", referiu Bento Rafael. 

"Neste momento voltamos à normalidade e o resto vamos continuar a trabalhar na sensibilização dos nossos mototaxistas para tornarmos a atividade muito mais suave e com menos acidentes, que é o que todos nós pretendemos", realçou. 

De acordo com o líder da AMOTRANG, os mototaxistas saíram "satisfeitos" do encontro desta sexta-feira (08.09), sobretudo devido ao "retorno da atividade em todas as vias de Luanda". 

Os motociclistas deverão seguir à risca a medida das autoridades "quando as vias secundárias e terciárias estiverem tratadas para receber o afluxo de mototaxistas em Luanda", salientou. 

Bento Rafael que, na quinta-feira, lamentou à Lusa o facto de a associação não ter sido consultada pelo GPL, enalteceu hoje o encontro realizado com as autoridades administrativas de Luanda. 

"Um dos grandes problemas que lamentávamos é o facto de não termos sido ouvidos como organização que lidera os motoqueiros e ontem (quinta-feira) felizmente fomos chamados para corrigir algumas coisas e estamos a fazer", rematou o responsável. 

A Amotrang, só em Luanda, contabiliza atualmente mais de 20 mil mototaxistas. 

Angola Mototaxi in Luanda
Imagem de arquivoFoto: DW/M. Luamba

Protesto em Luanda

Centenas de mototaxistas protestaram na quinta-feira em várias ruas de Luanda, contra as restrições à circulação na capital, queixando-se de falta de diálogo, tendo sido dispersados pela polícia, descreveu hoje um dos participantes à Lusa.

A ação teve início no final da tarde de quinta-feira, quando mais de 500 mototaxistas, concentrados no Largo das Escolas, para discutirem a proibição de circular nas principais avenidas e estradas da capital angolana, foram dispersados pela polícia, que ao chegar ao local efetuou alguns disparos, de acordo com vídeos a circular nas redes sociais. 

Em declarações hoje à agência Lusa, o mototaxista Paulo Ramos, de 47 anos, que participou no encontro, explicou que pretendiam chegar a um consenso dos passos a seguir em função da proibição, optando por dialogarem para "depois bater à porta de quem de direito".

"Infelizmente não houve esse contacto, depois da situação que de ontem [quinta-feira] acabámos ficando dispersos e não conseguimos manter novamente o contacto para passos seguintes", referiu.

Segundo Paulo Ramos, que há mais de dez anos é mototaxista, por falta de emprego, o objetivo é terem um encontro com o governador da província, para mais pormenores das medidas agora aplicadas e que solução poderão dar aos profissionais.

"Dependemos deste labor para o nosso sustento", frisou nas declarações à Lusa.  

A Lusa tentou desde quinta-feira ouvir a polícia angolana, mas sem sucesso até ao momento.

De acordo com Paulo Ramos, não há registo de detenções ou qualquer outra situação com os participantes neste protesto, que durante algum tempo causou agitação entre os cidadãos e perturbação ao trânsito, na hora de fim de expediente.

Questionado sobre se existe um controlo do número de mototaxistas em Luanda, Paulo Ramos disse que é difícil avançar-se a quantidade, realçando que na concentração de quinta-feira eram mais de 500 motas.

Paulo Ramos vincou que a maioria dos mototaxistas não é membro da Associação dos Motoqueiros e Transportadores de Angola (Amotrang), lembrando que se juntam cada vez mais membros a esta classe "por uma questão circunstancial", para ultrapassar as dificuldades económicas que o país atravessa.

"A Amotrang apenas tem o controlo de um grupo limitado de motoqueiros e a maioria não está incluída dentro desta associação, e em momento nenhum sentimos a presença da Amotrang quando temos outras situações no nosso dia-a-dia (...) achamos que a Amotrang não está para resolver os nossos problemas", destacou.

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