As artes como arma anticolonial
A luta contra o colonialismo fez-se em várias frentes. Uma caneta, uma música e um pincel também podem ser uma arma. Recordamos algumas figuras que fizeram da arte o seu grito de revolta contra o regime vigente.
Amílcar Cabral, o "Chefi di Guerra" que era poeta
Nasceu na Guiné, mas o percurso e luta dividiu-se entre o país natal e Cabo Verde. Promotor da cultura e educação, que via como partes integrantes do processo de revolução. O poeta português Manuel Alegre descreveu-o como” o mais inteligente, o mais criativo e o mais brilhante de todos os dirigentes da luta de libertação dos povos africanos".
Deolinda Rodrigues: As mulheres também lutam
Langilia era o nome de guerra de Deolinda Rodrigues (no canto superior direito da foto) contra o império colonial. Perdeu a vida pela causa que defendia. É também um símbolo feminista – é ela a origem do Dia da Mulher Angolana. Excerto de um dos seus poemas: "Mamã África geraste-me no teu ventre, nasci sob o tufão colonial, chuchei teu leite de cor, cresci, atrofiada, mas cresci".
Mário Pinto de Andrade e a identidade africana
Passou grande parte da sua vida exilado, o que não o impediu de ser uma das grandes vozes dos nacionalismos africanos e do pan-africanismo. Idealista, acaba por deixar o MPLA, partido que fundou, por não se identificar com o rumo tomado. Em 1953, com o são-tomense Francisco Tenreiro, organizou o volume "Poesia Negra de Expressão Portuguesa", um testemunho da expressão africana dentro da lusofonia.
As "três Marias": Denunciar o Estado Novo internacionalmente
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho Costa escreveram "As Novas Cartas Portuguesas", que denunciava a repressão do regime, especialmente no que dizia respeito às mulheres. O livro foi censurado e as autoras levadas a tribunal. O caso teve grande repercussão internacional, com várias manifestações em sua defesa e contra o regime ditatorial em Portugal.
José Luandino Vieira: Consciência nacionalista
É um dos grandes da literatura angolana. A sua obra reflete a consciência nacionalista, não foi por acaso que adotou um pseudónimo que inclui o nome "Luandino". Lutou pelo MPLA. Foi um dos que foram presos na sequência do conhecido "Processo dos 50". Esteve vários anos preso, incluindo no Tarrafal. Venceu o prémio Camões, o mais importante para escritores de língua portuguesa, que recusou.
Zeca Afonso: A voz da revolução
Português, com a infância passada entre Angola e Moçambique. Voz incontornável da música de intervenção contra a ditadura e o colonialismo. A sua música "Grândola Vila Morena" foi um dos sinais para dar início à Revolução dos Cravos. É reconhecido internacionalmente e as suas músicas permanecem um símbolo da luta contra regimes opressivos.
Alda do Espírito Santo: "Independência total"
Figura mítica do nacionalismo são-tomense (à esquerda na foto), não fora ela a autora da letra do hino nacional onde por várias vezes reclama a "Independência total". A sua poesia é um elogio à sua terra e ao seu povo. Em Lisboa conviveu com intelectuais como Mário Pinto de Andrade e Amílcar Cabral, na famosa Casa dos Estudantes do Império.
Malangatana: O herói moçambicano
Esteve 18 meses preso pelos ideais anticolonialistas que defendia. Os anos de cárcere estariam depois presentes também presentes nos seus trabalhos. É conhecido internacionalmente pela pintura, mas também explorou outras formas de expressão como a escultura, cerâmica e a tapeçaria. Em 1997 foi nomeado pela UNESCO "artista pela paz".
As artes são muitas vezes usadas para expressar revolta e disseminar ideias. Não foi diferente no período colonial. A escrita foi uma das ferramentas mais usadas para espalhar a mensagem conta o regime e promover a identidade nacional. Vários destes artistas e intelectuais participavam ativamente na guerra colonial, a par da revolta veiculada por livros ou pinturas. Foram presos, alguns assassinados, mas o seu legado não foi esquecido e ainda hoje inspiram gerações.