Artistas dos PALOP brilharam no Festival Wassermusik
19 de agosto de 2014Ao todo, foram 16 atrações musicais, oito filmes e um mercado com comidas e produtos dos países de língua oficial portuguesa na edição deste ano.
Desde o final de julho, os ritmos africanos deram o tom aos fins de semana na Haus der Kulturen der Welt, ou Casa das Culturas do Mundo, em Berlim, a capital alemã.
O público diário da sétima edição do festival Wassermusik, ultrapassou os mil visitantes. Para eles, a edição de 2014 ofereceu uma oportunidade de conhecer melhor o universo artístico lusófono, ou de estar um pouquinho mais perto de casa.
Transbordando simpatia e animação, o músico moçambicano Neco Novellas subiu, pela primeira vez, ao palco em Berlim. Incentivou o público a cantar e arriscou frases em alemão.
Tocar aqui foi como um batismo, conta-nos: "Sinto-me como se estivesse a tomar um banho cá e, depois do banho, o meu desejo é que entre para esta gente e que transmita a minha música assim como transmiti na Holanda, na Béliga e Luxemburgo e alguns outros países. "
World Jazz ao estilo moçambicano
Neco Novellas vive há 20 anos na Europa. Estudou música clássica em Portugal e na Holanda, onde vive atualmente. Há 15 anos, criou o grupo que leva seu nome e inclui seus dois irmãos e um amigo, todos moçambicanos.
Representar a terra natal nos palcos da Alemanha, deixou o artista orgulhoso: "É uma honra saber que estou aqui, não só por pensar que estou a representar Moçambique, mas que estou a representar a música de um artista moçambicano que saiu do seu país e foi colher informações."
E Novellas destaca o simbolismo desse momento: "Hoje posso conviver num palco e ter um documento onde vai estar registado um mês de cultura de expressão de língua portuguesa."
O estilo que Neco Novellas define como World Jazz conquistou os curadores e sacudiu a plateia internacional do Wassermusik.
A maior influência de Moçambique nas suas composições está nas línguas maternas, diz ele. Gosta de cantar não só em Português, mas principalmete na língua da sua tribo, Chope, e em Changana, língua que aprendeu em Maputo.
Kuduro, uma tentativa bem sucedida
O brasileiro Lenine e o português Fausto Bordalo Dias foram apontados como os destaques do evento pela coordenadora de programas do festival, Gabriele Tuch. Entre os artistas africanos, o destaque foi a noite de Kuduro angolano, que colocou lado a lado o DJ Nigga Fox, o grupo Homeboyz e Cabo Snoop.
A coordenadora revela: "Não sabíamos se iria funcionar, se seria bem visto, porque o kuduro é uma música urbana dançante que aqui nas discotecas de Berlim é muito ouvida, mas é algo que o público tradicional do Wassermusik ainda não conhecia e funcionou muito bem." E ela garante que "todos dançaram e foi um ambiente fantástico."
A noite de encerramento do festival, que terminou no último sábado (16.08), ficou por conta do Conjunto Angola 70, sucesso em Luanda há mais de 40 anos.
Juntos no palco em Berlim artistas de diversas gerações. Uma combinação que cai como uma luva ao espírito do Wassermusik, diz Gabriele Tuch: "Porque o que eles fazem é uma mistura de antigo e novo, foi totalmente modernizado."
A coordenadora recorda que "houve também novidades, e é também uma mistura de continentes que se pode ouvir. Influências brasileiras, latino-americanas, rumba, música africana, a língua portuguesa, naturalmente. E esta é, na verdade, a essência de todo o festival."