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Autoridades descartam adiamento das eleições no Zimbabué

AFP | DPA | AP | Lusa | tms
24 de junho de 2018

Presidência disse que a explosão durante um comício em Bulawayo está a ser investigada e rejeitou o adiamento das eleições. A polícia confirmou que 49 pessoas, incluindo os dois vice-Presidentes, ficaram feridas.

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Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi

A explosão que abalou a campanha do partido no poder, na qual o Presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, escapou ileso, mergulhou o país em águas desconhecidas um mês antes das primeiras eleições do período pós-Robert Mugabe.

Entretanto, um dia após o atentado, as autoridades descartaram neste domingo (24.06) o adiamento das eleições, enquanto a polícia confirmou que 49 pessoas que participavam no comício, incluindo os dois vice-Presidentes do país, ficaram feridas no ataque, algumas delas seriamente.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram uma explosão de fumaça ao redor do Presidente, logo após o seu discurso no evento da campanha eleitoral, quando ele descia as escadas do palanque no estádio White City, na segunda maior cidade zimbabuena, Bulawayo, a 360 quilómetros de Harare.

Mnangagwa disse que foi o alvo do ataque, que também feriu os vice-presidentes Kembo Mohadi e Constantino Chiwenga, e que a imprensa estatal está descrever como uma "tentativa de assassinato".

O dispositivo "explodiu a poucos centímetros de mim", disse o Presidente à emissora estatal na noite de sábado, culpando o ataque a seus "inimigos mortais". "Estes são meus inimigos mortais e as tentativas foram tantas. Não é o primeiro atentado contra a minha vida. Estou acostumado com isso. Seis vezes meu escritório foi arrombado", revelou o Emmerson Mnangagwa.

Investigações e eleições

As eleições programadas para 30 de julho serão as primeiras desde que o líder veterano do Zimbabué, Robert Mugabe, renunciou depois de uma breve intervenção militar em novembro do ano passado, após 37 anos no poder.

Enquanto as investigações sobre o ataque deste sábado estão em curso, o Governo descartou adiar o escrutínio. "Quanto às eleições serem adiadas, um estado de emergência sendo declarado (devido ao ataque de Bulawayo), fique tranquilo que o programa eleitoral vai prosseguir como planeado", disse o porta-voz presidencial George Charamba ao jornal estatal "Sunday Mail".

Da mesma forma, o vice-Presidente Constantino Chiwenga disse que o atentado deste sábado foi um "ato de terrorismo", mas que isto não impedirá a realização das eleições na data prevista.

A porta-voz da polícia, Charity Charamba, disse neste domingo aos repórteres que até agora ninguém foi detido, mas que "investigações abrangentes estão em andamento" e que uma recompensa está a ser oferecida a quem der informações sobre os responsáveis pelo ataque.

Zimbabwe Vizepräsident Constatino Chiwenga
Vice-Presidente Constatino Chiwenga está entre os feridos na explosão em BulawayoFoto: Reuters/P. Bulawayo

A próxima eleição será a primeira de Mnangagwa nas urnas. Num comunicado oficial neste domingo, Mnangagwa pediu união e paz. "Em novembro [quando Mugabe foi removido], todos nos reunimos motivados por um sonho, por um Zimbabué livre, democrático e próspero, um Zimbábue pacífico", disse ele, acrescentando que "agora algumas pessoas estão tentando matar nosso sonho".

"Enquanto todos nós escolhemos o caminho da paz, outros infelizmente ainda se apegam às ferramentas da violência. Garanto que eles não terão sucesso", disse o Presidente, acrescentando que "nós, como povo, devemos nos unir".

As eleições anteriores no Zimbábue foram marcadas por fraude eleitoral, intimidação e violência, incluindo a morte de dezenas de partidários da oposição em 2008. Mas nunca houve explosivos detonados em comícios ou direcionados diretamente a qualquer líder político.

Mnangagwa comprometeu-se a realizar eleições livres e justas, à medida que busca consertar as relações internacionais e derrubar as sanções contra o Zimbábue.

"Frustrações internas"

Enquanto Bulawayo tem sido um bastião de oposição ao ZANU-PF e foi o primeiro comício de Mnangagwa na cidade, analistas sugerem que o ataque pode ter sido instigado por frustrações internas dentro do partido no poder.

"Parece-se muito com uma crise interna dentro da ZANU-PF", disse Gideon Chitanga, do Think Tank, baseado em Johanesburgo. "O jogo final na política de sucessão do ZANU-PF será longo e suas ramificações são terríveis".

Simbabwe Robert Mugabe 2008, Präsident
Robert MugabeFoto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi

No entanto, outros apontam para as velhas queixas ligadas à repressão de Gukurahundi entre 1982 e 1987, que foi amplamente vista como um esforço do então primeiro-ministro Robert Mugabe para derrotar seu aliado inimigo, o líder da libertação Ndebele, Joshua Nkomo.

"As principais incertezas agora são se a reação ao ataque inclui uma repressão aos dissidentes e rivais políticos em nome da segurança ou um atraso nas eleições", disse Hasnain Malik, da Exotix Capital, com sede em Londres.

Mas para os eleitores comuns como Crispen Pfundirwa, em Harare, a principal preocupação é que a segurança não seja garantida no período que antecede a eleição. "Desde 1980, não vimos nenhuma explosão de bomba em um comício. Esse tipo de coisa não acontece no Zimbabué, mas no Iraque e no Irão", disse Pfundirwa.