Angola: Adiado julgamento de ativistas detidos no Cazenga
11 de janeiro de 2021Ainda não há uma acusação formal contra os 11 jovens detidos na passada sexta-feira (08.01), na sequência de um protesto contra Tomás Bica, administrador do município do Cazenga, mas especula-se que terão cometido crimes de arruaça. Esta segunda-feira (11.01), os ativistas ficaram apenas duas horas no tribunal e voltaram para as celas das esquadras policiais.
Aos advogados foi informado que o Ministério Público deverá fazer uma apreciação profunda do processo, diz Zola Bambi, membro da equipa da defesa. No entanto, o advogado dos ativistas considera que o adiamento poderá facilitar a "fabricação" de provas inexistentes.
"Não foi dito nada sobre acusação, simplesmente fomos informados de que a polícia os indiciou por crimes de arruaça", adianta Zola Bambi. "O que deveria ser qualificado dentro do nosso ordenamento penal não nos foi dito. Isso quer dizer que desconhecemos a razão da detenção e da possível audiência."
Em declarações à DW África, o advogado diz que os seus constituintes não cometeram crimes, porque foram detidos num ato de manifestação pacífica.
Com o adiantamento da sessão, o processo perdeu a essência de julgamento sumário, explica a defesa: "Foram detidos por uma situação e agora está-se a analisar, porque faltam elementos. Perdeu a essência. O que estão a fazer é fabricar provas contra os ativistas", afirma Zola Bambi.
Novas detenções
Esta segunda-feira, outros seis ativistas foram detidos junto ao Tribunal Provincial de Luanda pela Policia Nacional e postos posteriormente em liberdade. As autoridades policiais, que fizeram um cordão diante do tribunal, abandonaram os jovens nas proximidades da província do Kwanza Sul, a mais de 100 quilómetros da cidade de Luanda.
Adilson Manuel, um dos detidos, afirma que os agentes os deixaram descalços no meio da mata do Cabo Ledo. A DW África ouviu o ativista esta tarde, quando o grupo procurava boleia para chegar à cidade.
"Fomos detidos pela polícia às 13h00, quando nos concentrávamos no Tribunal Dona Ana Joaquina. De seguida, fomos levados para a esquadra da Ilha de Luanda e depois transportaram-nos até ao Cabo Ledo, próximo do Kwanza Sul. Puseram-nos nas matas e apontaram-nos uma arma de fogo, recolheram o nosso calçado, os telefones e foi assim que nos soltaram. Estamos agora a caminhar descalços sem água e com fome".
A DW procurou, sem sucesso, ouvir a versão da polícia.