Angola: Mulheres contra o assédio sexual em Malanje
28 de abril de 2023Na província angolana de Malanje, muitas das quase 300 escolas que atendem 298 mil estudantes são palco de assédio sexual contra mulheres. O alerta é da ativista e promotora da identidade cultura feminina Ema da Silva.
"Os jovens desabafam, pedem socorro, pedem ajuda de como se comportar diante de uma situação de assédio no local de trabalho, e não só no local de trabalho, também na escola. A escola tem sido um dos principais centros de assédio sexual por parte dos professores", afirma Ema da Silva, que pertence ao movimento As Crespas de Malanje.
Para Ema da Silva, os predadores têm sempre o mesmo modus operandi: pressionar as vítimas.
"Vem o chefe a querer impor propostas ou professor querendo propor notas às vezes sem querer fazer provas, dá a possibilidade e deixa a pessoa constrangida", conta.
Marcas do assédio
O assédio sexual deixou marcas indeléveis em Benvinda Nguvulu em 2020. Ainda hoje, a jovem estudante sente os efeitos do que aconteceu há três anos.
"Tinha sempre notas muito baixas, de 5 não passava. Ele começou a me tratar muito mal. Eu nunca aprovava na cadeira dele, tinha sempre recursos e tudo mais", relembra a jovem, referindo-se ao professor que a assediou.
Esta denunciante disse à DW que conhece outras histórias de estudantes que reprovaram e jovens que perderam o emprego por dizerem 'não' ao assédio sexual.
Vulnerável, esta jovem de 27 anos admite ter desenvolvido uma depressão depois do caso. "Eu não me sentia à vontade de estar na turma, sabendo que seria ele a estar aí a dar aquela aula. Isso me fazia muito mal", lamenta.
A importância das denúncias
Para o jurista Israel da Silva, o assédio sexual é um problema muito sério e deve ser denunciado nas instâncias apropriadas. Reconhecendo que "dificilmente as mulheres denunciam estes casos", ele apela: "devem denunciar".
Entretanto a diretora da Ação social, Família e Igualdade de Género em Malanje, Angelina Kamweji, avança que está um curso um programa de apoio às vítimas.
"Casos de tal natureza têm sido tratados no Serviço de Investigação Criminal ou no IGT, que é a Inspeção Geral do Trabalho. Quanto a nós cabe apenas a responsabilidade de dar o encaminhamento", conclui Angelina Kamweji.